Cada dia mais vemos que as pessoas estão perdendo o amor, a fé e a reverência a Jesus Sacramentado. Certamente isso é fruto da atual crise que a Santa Igreja vive. Infelizmente hoje é muito comum entrarmos em uma igreja e não encontarmos o sacrário no seu lugar de exelência que é o centro do altar-mor. Também cada vez mais testemunhamos abusos terríveis para com a liturgia que são uma verdadeira profanação para com o Santíssimo Sacramento. Como se não bastasse tudo isso, hoje muitos sacerdotes proibem aos leigos receberem a santa comunhão da forma mais digna e piedosa que é diretamente na boca estando o fiel de joelhos. Eu mesmo ja foi proibido duas vezes pelo sacerdote de minha paróquia de receber a santa comunhão assim. O resultado de tudo isso é uma perda total da fé. Grande parte do clero não tem o menor pudor em desrespeitar a Eucaristia e os pobres leigo aprendem da boca e dos atos de seu próprio pastor a desrespeitar e a profanar o centro da fé católica: O Senhor Sacramentado.
Porém as coisas nem sempre foram assim. No seu exelente livro Dominus Est, Dom Athanasius Schneider relata a fé viva no Sanhor sacramentado vivida por sua mãe e pelo beato Alexij Saritski. Realmente fiquei emocionado com o relato do prelado. Num tempo de grande perseguição que o comunismo impunha à Igreja na antiga União Soviética, a fé estava viva na alma das pessoas e o respeito e a veneração a Jesus Sacramentado era o que fortalecia aquelas pobres almas. Recorramos aos santos pedindo que intercedam pela Igreja neste tempo de crise e por todos que são perseguidos pela fé.
Relato:
Maria Schneider, minha mãe, contava-me: depois da segunda guerra mundial, o regime estalinista deportava muitos alemães do Mar Negro e do rio Volga para os montes Urais, para se servir deles em trabalhos forçados. Todos eram internados em paupérrimas barracas, num ghetto da cidade. Muitas vezes, iam ter com eles, no máximo segredo, alguns sacerdotes católicos, para lhes administrar os sacramentos. E faziam-no, pondo em grave perigo a sua própria vida. Entre esses sacerdotes, que vinham mais frequentemente, estava o Padre Alexij Saritski (sacerdote ucraniano greco-católico e biritualista, morto como mártir no dia 30.10.1963, próximo de Karaganda e beatificado pelo Papa João Paulo II no ano 2001). Os fiéis chamavam-no afectuosamente “o vagabundo de Deus”.
No mês de Janeiro de 1958, na cidade de Krasnokamsk, perto de Perm, nos montes Urais, inesperadamente, chegou em segredo Padre Alexij, proveniente do lugar do seu exílio, da cidade de Karaganda, no Kazakhstan.
Padre Alexij empenhava-se em que o maior número possível de fiéis fosse preparado para receber a Sagrada Comunhão. Por isso, ele mesmo se dispunha a ouvir a confissão dos fiéis literalmente dia e noite, sem dormir e sem comer. Os fiéis continuamente lhe diziam: “Padre deve comer e dormir!” Mas ele respondia: “Não posso, porque a polícia pode prender-me de um momento para o outro e, depois, tantas pessoas ficariam sem se confessar e, por isso, sem comungar”. Logo que todos se haviam confessado, Padre Alexij começou a celebrar a Santa Missa. Inesperadamente, uma voz se ouviu: “A polícia está próxima!”. Maria Schneider assistia à Santa Missa e disse ao sacerdote: “Padre, eu posso escondê-lo, fujamos!”
A mulher conduziu o sacerdote para uma casa fora do ghetto alemão e escondeu-o num quarto, levando-lhe também alguma coisa de comer e disse: “Padre, agora, o senhor pode finalmente comer e repousar um pouco e, quando chegar a noite, fugiremos para a cidade mais próxima”. Padre Alexij estava triste, porque todos estavam confessados, mas não tinham podido receber a Sagrada Comunhão, porque a Santa Missa que apenas tinha começado tinha sido interrompida por causa da aproximação da polícia. Maria Schneider disse: “Padre, todos os fiéis farão com muita fé e devoção a Comunhão espiritual e esperamos que o Senhor possa regressar, para dar-nos a Sagrada Comunhão”.
Chegada a noite, começou-se a preparar a fuga. Maria Schneider deixou os seus dois filhos pequenos (um menino de dois anos e uma menina de seis meses) a sua mãe e chamou Pulcheria Kock (a tia de seu marido). As duas mulheres chamaram o Padre Alexij e fugiram, uns 12 quilómetros através do bosque, com neve e ao frio nada menos que a 30 graus abaixo de zero. Chegaram a uma pequena estação, compraram o bilhete para o Padre Alexij e sentaram-se na sala de espera, porque tinham de esperar ainda uma hora pela chegada do combóio. Inesperadamente abriu-se a porta e entrou um polícia que se dirigiu directamente ao Padre Alexij. Diante do Padre perguntou-lhe: “o senhor onde vai?” O Padre não ficou em condições de responder pelo seu espanto. Ele não temia pela sua vida, mas pela vida e pelo destino da jovem mãe Maria Schneider. Pelo contrário, a jovem mulher respondeu ao polícia: “Este é nosso amigo e nós acompanhámo-lo. Eis o seu bilhete” e entregou o bilhete ao polícia. Este, guardando o bilhete, disse ao sacerdote: “Por favor, não entre no último vagão, porque esse será desligado do resto do combóio na próxima estação. Boa viagem!”. E imediatamente, o polícia saíu da sala. Padre Alexij olhou para Maria Schneider e disse-lhe: “Deus mandou-nos um anjo! Jamais esquecerei aquilo que ele fez por mim. Se Deus mo permitir, regressarei, para dar-vos a Sagrada Comunhão e em todas as minhas Missas rezarei por si e por seus filhos”.
Passado um ano, Padre Alexij, pôde regressar a Krasnokansk. Desta vez, pôde celebrar a Santa Missa e dar a Sagrada Comunhão aos fiéis. Maria Schneider pediu-lhe um favor: “Padre, podereia deixar-me uma hóstia consagrada, porque minha mãe está gravemente doente e ela desejaria muito receber a Comunhão, antes de morrer?” Padre Alexij deixou uma hóstia consagrada, sob a condição de que se administrasse a Sagrada Comunhão com o máximo respeito possível. Maria Schneider prometeu agir desse modo. Antes de se transferir, com a sua família, para Kirghistan, Maria administrou a sua mãe, doente, a Sagrada Comunhão. Para o fazer, ela pôs luvas brancas novas e, com uma pinçazinha, deu a Comunhão a sua mãe. Depois, queimou a bolsa em que estava depositada a hóstia consagrada.
As famílias de Maria Schneider e de Pulcheria Koch transferiram-se depois para Kirghistan. Em 1962, Padre Alexij, visitou secretamente Kirghistan e encontrou Maria e Pulcheria, na cidade de Tokmak. Celebrou a Santa Missa na casa de Maria Schneider e, seguidamente, ainda uma outra vez, na casa de Pulcheria Koch. Como gesto de gratidão a Pulcheria, esta mulher anciã que o tinha ajudado a fugir no escuro e no frio do inverno dos montes Urais, Padre Alexij, deixou-lhe uma hóstia consagrada, dando-lhe, porém, uma instrução bem precisa: “Deixo-lhe uma hóstia consagrada. Faça a devoção dos primeiros nove meses em honra do Sagrado Coração de Jesus. Todas as primeiras sextas-feiras do mês, a senhora faça a exposição do Santíssimo na sua casa, convidando para adoração pessoas de absoluta confiança, e tudo deverá ser feito com a máxima segurança e no maior segredo. Depois do nono mês, a senhora poderá consumir a hóstia, mas faça-o com a maior reverência possível!” E assim se fez. Durante nove meses, houve em Tormak uma adoração eucarística clandestina. Também Maria Schneider estava entre as adoradoras.
Estando de joelhos diante da pequenina hóstia, todas as senhoras adoradoras, estas senhoras
verdadeiramente eucarísticas desejavam ardentemente receber a Sagrada Comunhão. Mas, infelizmente, havia apenas uma pequena hóstia e, ao mesmo tempo, numerosas pessoas desejosas de comungar. Por isso, Padre Alexij tinha decidido que, no fim dos nove meses, a recebesse apenas Pulcheria e todas as outras mulheres fizessem a Comunhão espiritual. No entanto, estas Comunhões espirituais eram muito preciosas, porque tornavam estas mulheres “eucarísticas” capazes de transmitir aos seus filhos, por assim dizer, com o leite materno, uma profunda fé e um grande amor à Eucaristia.
A entrega daquela pequena hóstia consagrada a Pulcheria Koch, na cidade de Tokmak, em Kirghistan, foi a última acção pastoral do Beato Alexij Saritski. Imediatamente depois do seu regresso a Karaganda, da sua viagem missionária a Kirghistan, no mês de Abril do ano de 1962, Padre Alexij foi preso pela polícia secreta e posto no campo de concentração de Dolinks, perto de Karaganda.
Depois de muitos maus tratos e humilhações, Padre Alexij obteve a palma do martírio “ex aerumnis carceris”, no dia 30 de Outubro de 1963. Neste dia, celebra-se a sua memória litúrgica, em todas as igrejas católicas de Kazakhstan e da Rússia; a Igreja greco-católica ucraniana celebra-o, juntamente com outros mártires ucranianos, no dia 27 de Junho. Foi um santo eucarístico que conseguiu educar mulheres eucarísticas. Estas mulheres eucarísticas eram como flores crescidas na escuridão e no deserto da clandestinidade, tornando assim a Igreja verdadeiramente viva.
Livro: Dominus est, Dom Athanasius Schneider
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