A reviravolta imposta pelo eleitorado ao mundo político-publicitário, nas eleições presidenciais, é tema que se impõe.
Não me atenho ao palco eleitoral, onde os figurantes desenrolam seus papéis para convencer o público e arrastá-lo a uma escolha. Chamo a atenção para a larga e vigorosa fatia da opinião pública capaz de reescrever o roteiro do pleito eleitoral.
A falta de idéias, de princípios e de debates sobre problemas nacionais, marcou a campanha do 1º turno. Prognosticou-o o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ao afirmar que o teatro eleitoral se organizava para esconder o que verdadeiramente estava em discussão.
Coube à revista “Veja” sintetizar graficamente a frustração do público ante tal vácuo, com uma capa em branco, a simbolizar as “grandes propostas para o Brasil feitas na campanha presidencial”.
A falta de autenticidade somou-se à falta de representatividade dos principais candidatos – todos eles de esquerda – deixando o amplo setor conservador do eleitorado sem legítimo porta-voz.
O quadro eleitoral, segundo dogmatizavam inúmeros “especialistas”, caminhava para a vitória arrasadora do lulo-petismo, com uma população indiferente a princípios e valores e embaída pelos benefícios de uma situação sócio-econômica favorável.
O mundo publicitário e político – mais precisamente, preponderantes setores da esquerda – enganou-se com relação ao País. De tanto prestar atenção ao Brasil oficial, acreditou que a Nação se cinge a essa minoria frenética e aparatosa, mas superficial. Ignorou os brasileiros, silenciados nos seus anelos mais autênticos – particularmente nos morais e religiosos – que se moviam e preparavam uma “vingança”.
À margem das estruturas partidárias e políticas, esse Brasil fez irromper como um géiser, no panorama artificialmente inexpressivo, as preocupações que assombram a maioria silenciosa, pacata e conservadora de nossa população.
O tema do aborto despontou com ímpeto chamativo. Mas foi a panóplia de metas radicais do PNDH 3 o que maior apreensão causou em vastos setores da sociedade. As ameaças do PNDH3 – cavilosamente adjetivadas de “boataria” – fizeram vislumbrar o gérmen da perseguição religiosa, ao pretenderem subverter os fundamentos cristãos que ainda pautam a sociedade e tutelar sectariamente os indivíduos.
O mundo político-partidário e as potentes tubas publicitárias tentaram celeremente adaptar-se à realidade a tanto custo abafada. Sinal inequívoco da crescente fraqueza desse Brasil de superfície, que tenta relegar ao anonimato o Brasil autêntico, o qual se quer manter fiel a si mesmo, às suas tradições, ao seu modo de pensar e de viver.
Assistimos a uma verdadeira insurreição eleitoral. Qualquer que seja o resultado do presente pleito, sirva ela de lição para o grave divórcio que se vai estabelecendo entre o Brasil oficial e o Brasil profundo. Outras surpresas sobrevirão.
Dom Bertrand de Orleans e Bragança, segundo na sucessão ao trono brasileiro
Fonte: Pró-monarquia
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