terça-feira, 10 de maio de 2011

A fé no Sri Lanka

A Cruz Vermelha é associada ao cuidado dos doentes graças a um santo italiano do século XVII: São Camilo. O fundador dos Ministros dos Enfermos é padroeiro dos doentes e das enfermeiras.
Seu primeiro filho espiritual no Sri Lanka tem agora o sonho de continuar o legado do fundador criando algum dia um centro assistencial para pacientes de aids.
O padre camiliano Maximiliano Ranatunga nasceu em Ragama, perto da capital, Colombo. Young Nihal (Maximiliano é o seu nome de batismo) era budista cingalês. As dificuldades econômicas depois da morte do pai provocaram uma série de acontecimentos que o levaram à conversão e à descoberta da vocação.
O padre Ranatunga falou com o programa de televisão "Deus chora na Terra", da ‘Catholic Radio and Television Network’ (CRTN), em colaboração com ‘Ajuda à Igreja que Sofre’.

-O Sri Lanka é notícia no mundo por causa da guerra civil.

-Padre Ranatunga: Exatamente. Nós sofremos durante 30 anos por causa dela, foram muitas mortes. A guerra também causou problemas econômicos, especialmente no turismo.

-Qual é a causa desse conflito?

-Padre Ranatunga: O problema é entre os tâmiles e a maioria cingalesa. Os cingaleses querem o Sri Lanka todo, e os tâmiles, cujos antepassados chegaram ao Sri Lanka e se estabeleceram no norte, querem dividir o país.

-Qual é a religião dos tâmiles?

-Padre Ranatunga: Eles são hinduístas ou católicos, mas não budistas.

-O Sri Lanka é um país predominantemente budista?

-Padre Ranatunga: Sim. 80% são budistas. O resto são católicos, hinduístas, muçulmanos e de outras religiões.

-Então é uma questão religiosa?

-Padre Ranatunga: Étnica. Não religiosa. Esses dois grupos étnicos, tâmiles e cingaleses, não conseguem coexistir.

-Por quê?

-Padre Ranatunga: São diferenças culturais e de língua. Os cingaleses são budistas, falam sinhala e têm o monopólio do poder político. Por lei, o presidente tem que ser cingalês e budista. Os tâmiles se sentem discriminados, este é o problema.

-Você foi criado como budista. Como foi a sua educação budista?

-Padre Ranatunga: É uma filosofia. O budismo não tem um deus como o cristianismo. Não existem sacramentos com normas e regulações; o budismo não é assim. Eu até tive vontade de ser monge budista.

-Isso é comum? Jovens quererem ser monges budistas?

-Padre Ranatunga: É normal que muitos rapazes entrem como noviços, sim. Felizmente para mim, eu segui outro caminho. Apesar de querer, eu não entrei. É um mistério. Deus sempre faz milagres na nossa vida, e, como São Paulo, eu não queria ter nada a ver com os cristãos. Sou de uma família budista muito pobre. O meu pai morreu quando eu tinha 12 anos. Tivemos problemas econômicos, e a minha mãe não conseguia criar seis filhos pequenos. Aí ela me disse: "Você vai morar com a família tal, vai conseguir trabalhar para eles". E eu fui viver com uma família católica.

-Trabalhar para essa família católica?

-Padre Ranatunga: É, eu tive que trabalhar duro, fazer o trabalho doméstico. Fazia de tudo. Na vila tinha a Igreja de São Maximiliano. Eu costumava ir lá, e fiquei amigo das famílias, dos padres e das irmãs, e das crianças da minha idade. Foi isso que me atraiu para a Igreja católica.

-Como você conciliava as coisas, querendo ser monge budista?

-Padre Ranatunga: Tinha muitas famílias budistas lá perto, mas a minha vontade de virar monge foi diminuindo. Antes do meu batismo, eu acompanhava as pessoas que iam à missa. Era naqueles momentos que Deus agia na minha vida, como na conversão de santos como Inácio de Loyola, Francisco Xavier e até São Camilo.

-Mas decidiu virar cristão só porque entrou naquela igreja?

-Padre Ranatunga: Não, não, eu ia à missa, rezava novenas, participava nas celebrações de Natal, com os cânticos... Mas não pensava em virar católico. Então aquela família católica me sugeriu que eu me batizasse. Eu não sabia nada do cristianismo, e tive que aprender sobre a Igreja católica antes de aprender o catecismo.

-Como foi o início da conversão?

-Padre Ranatunga: Quando eu voltei para casa, fui à igreja de São Judas Tadeu, na minha vila, e os paroquianos ficaram meus amigos e me convidaram para várias atividades paroquiais. Até me mandaram para estudar no convento das Irmãs da Sagrada Família, durante uns seis, sete meses. Eu não sabia nada do cristianismo, mas tive a possibilidade de compreender claramente a fé, o mistério do cristianismo. Agora ensino a fé para dez budistas.

-É difícil para um budista se converter ao cristianismo?

-Padre Ranatunga: É difícil. No começo a minha família não me aceitou. Especialmente o meu irmão. Mas agora existe compreensão e respeito mútuo. Os católicos e os budistas agora convivem nas vilas. É difícil, mas existe respeito. Não falam nada. Mas eu me sinto sozinho, com certa inveja, digamos assim, das famílias católicas, que acolhem os padres. Elas participam nas celebrações como famílias. Eu não tenho essa oportunidade.

-Como são as relações entre budistas e católicos?

-Padre Ranatunga: Nós temos uma boa relação, mas agora existem problemas com alguns evangélicos norte-americanos. A população fica confusa, não sabe diferenciar uns dos outros, porque Cristo é comum a todos os cristãos. Às vezes, os evangélicos são muito agressivos e querem converter todo mundo. Oferecem ajuda e com isso eles atraem as pessoas.

-Você vinha trabalhando num hospital em Roma. Quais são os seus planos agora que vai voltar 
para o Sri Lanka?

-Padre Ranatunga: Eu gosto de trabalhar com os doentes. O meu sonho, que pode ser que não se realize, é construir um hospital e um centro de tratamento da aids. Já temos as irmãs, que eu convidei. Também falei com o bispo e a madre superiora. Eu não sei o que vai acontecer. Acho que se a gente está em união com Deus, dá para fazer muitas cosas. "Eu sou a vida, vós sois os ramos". Se eu estou unido a ele, os ramos dão frutos. Eu quero ficar unido a ele e me perder nele.

Fonte: Zenit

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