O padre Franz Schmidberger é o superior do Distrito da Alemanha. Após a sua entrada no seminário de Ecône em 1972, ele foi Superior Geral da Fraternidade Sacerdotal São Pio X de 1982 a 1994. Neste 40º aniversário da Fraternidade, o padre recorda o contexto religioso dos anos setenta e o desenvolvimento das relações com Roma.
Quando e como o senhor entrou na Fraternidade Sacerdotal São Pio X?
Eu morava em Munique e estudava Ciências Naturais na universidade. Eu conheci um pequeno grupo de jovens católicos dirigido por um professor de filosofia que havia lutado desde o Concílio Vaticano II para salvar o Latim, interromper a propagação da traição da fé e manter a Tradição. E assim, quando decidi me tornar sacerdote, não tive dúvidas quanto ao local onde eu deveria ir. Eu iria mais longe ao dizer que eu já sabia para onde ir, mesmo antes de eu saber se eu iria para o seminário! Ecône era a única possibilidade, já que eu não queria ser ordenado por um bispo que celebrava Missa Nova. Isso ocorreu em 1972.
Então Ecône e a Fraternidade já eram conhecidas em Munique, na Alemanha, em 1972?
Ah, sim! Sabíamos que um arcebispo tinha acabado de abrir um seminário na Suíça com a liturgia antiga. Imagine, um grupo como o nosso, depois do Concílio, nós procurávamos outros grupos semelhantes. Na época, estavamos em contato com católicos nos Estados Unidos, na França, em Viena… e, assim, sabíamos da existência uns dos outros. Lutávamos pelas mesmas ideias, estavamos envolvidos na mesma luta, embora ela nem sempre fosse tão precisa, tão explícita como é hoje. Mas, mesmo assim, a orientação geral era clara: queríamos a todo custo a missa e o catecismo de todos os tempos.
O que o atraiu tão fortemente naquela época à tradição da Igreja?
No começo, eu não entendia exatamente todo o movimento iniciado no Concílio. Na minha família, que era profundamente católica, nós aceitamos tudo desde o início. Mas já em 1967, compreendemos a importância das reformas do Concílio. Daquele momento em diante, nos tornamos parte de uma luta e, com esse grupo de estudantes, nós atacamos de frente os modernistas. Eu me lembro de termos anúncios impressos, incluindo alguns contra o Arcebispo de Munique [NDLR: Cardeal Döpfner], que era muito progressista e que desempenhou um papel pernicioso no Concílio.
Mas como o senhor tomou conhecimento sobre essa guerra dentro da Igreja?
Foi realmente devido à nossa formação em filosofia em Munique. Nós tínhamos uma base sólida sobre o assunto. Sabíamos que a verdade é imutável. Nós também poderíamos ver claramente que o desenvolvimento da sociedade civil estava indo na direção errada. E assim estavamos bem preparados e quando entramos em Ecône, com o padre Klaus Wodsack, tínhamos ideias claras.
Quando o senhor conheceu o arcebispo Dom Lefebvre?
Foi em 12 de março de 1972, no quarto domingo da Quaresma, Domingo Laetare, e com o padre Wodsack, servimos na missa do arcebispo, em sua casa em Friburgo, na Route de La Vignettaz. Após a missa, tomamos a refeição juntos, e Dom Lefebvre disse-nos que havíamos sido admitidos no seminário. Já havíamos mandado nossas matrículas, ele simplesmente queria ter uma impressão pessoal. Duas semanas depois, passamos alguns dias em Ecône. No mês de outubro seguinte, entramos no seminário.
Quais foram suas primeiras impressões de Dom Lefebvre?
Muito boas… muito nobre… Um caráter extremamente equilibrado! Um homem verdadeiramente católico. Um homem… da Igreja! Essas foram apenas as primeiras impressões! Nós descobrimos toda a sua personalidade nos meses seguintes.
Então, o senhor entra em Ecône em 1972. Seu primeiro compromisso com a Fraternidade remonta a 1973. Qual era o estado dela naquela época?
Era pequena! Havia talvez seis padres-membros. Estava in statu nascendi, apenas em processo de nascimento! Mas não havia preocupação com números. Nós tínhamos convicções muito fortes: a Missa Nova não era boa, nós não a queríamos, e pelo contrário, queríamos a Missa antiga a todo custo. E essa era a base de nossa convicção. Não importava quantas pessoas aderiam a ela, não importava! Tínhamos de trabalhar para propagar essa Missa novamente. Deus havia nos chamado pela sua graça para o sacerdócio e assim pensávamos que tínhamos de trabalhar para difundir a verdadeira missa católica novamente na Alemanha. Era um desejo missionário e apostólico.
E o senhor pensava que a Fraternidade iria ter tão grande desenvolvimento?
Para ser franco, eu não pensava que nos espalharíamos por todo o mundo, para a Ásia, para a África, para a esquerda e para a direita… O que realmente foi uma graça inédita e totalmente imerecida foi que fomos capazes de colaborar na sua propagação por todo o mundo.
Dom Lefebvre me disse um dia: “Se a Fraternidade continuar limitada à Europa, será um sinal de que não é obra de Deus. Pois, se é verdadeiramente obra de Deus, ela deve ter uma dimensão católica, universal. Ela deve atrair para si todas as culturas, todas as línguas, todas as classes sociais…” E foi isso que aconteceu! A Fraternidade é verdadeiramente uma obra da Igreja Católica. É universal. Foi estabelecida em todos os continentes, em todas as classes, entre intelectuais, gente simples, ricos e pobres… Isso é o que encontramos na Igreja primitiva, na Igreja de todas as épocas. A Igreja é universal! Ela fala a todo homem, para trazer todas as almas para o Bom Deus.
O que esse quadragésimo aniversário inspira no senhor?
Ele me dá, acima de tudo, um sentimento de profunda gratidão para com Deus. É uma grande alegria! Uma profunda alegria poder colaborar neste trabalho.
A luta continua da mesma forma?
Podemos ver que os nossos argumentos se mostram cada vez mais fortes e mais irrefutáveis. E que, mesmo os progressistas percebem. É por isso que eu diria que nós até desfrutamos de certa estima entre nossos inimigos. Porque é muito difícil fazer objeções aos nossos argumentos.
Eu me lembro, quando eu era Superior Geral, de que fui a Roma muitas vezes, e devo dizer que éramos naquela época praticamente desprezados: “Vocês são uns patifes, o que deu na cabeça de vocês… Como vocês podem imaginar que o Papa não está na linha certa no que diz respeito à liberdade religiosa e ao ecumenismo? O que há de errado com vocês para se voltarem contra o Papa?” Nós chegamos a ser tratados assim. Hoje, somos levados muito a sério. E temos de dar testemunho da fé católica na sua totalidade em Roma.
Nosso papel é, em primeiro lugar, lutar contra os erros, segundo, apontar o caminho para a verdadeira solução, e, em terceiro lugar, começar a colocar essa solução em prática. Com os seminários, as escolas, as famílias reunidas em torno de nossos altares, casas de retiro, os conventos de diferentes grupos religiosos, que estão unidos a nós…, dessa forma estamos reconstruindo um pouco da Cristandade. Esse é o nosso papel. Nós mostramos o caminho e dizemos claramente: a solução é a santidade sacerdotal, é a missa de todos os tempos, é o catecismo de todos os tempos, é trabalhar pelo reino de Nosso Senhor na sociedade. E assim, estamos tornando isso real. Claro, que está sendo feito de uma forma muito limitada, mas ao mesmo tempo nós somos um pequeno exército lutando por nosso Senhor Jesus Cristo.
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