terça-feira, 15 de novembro de 2011

A falsa humildade: Quando os santos agiram!

Leitor mal preparado e bem intencionado esbraveja: blog responde.

Recebo no post Pensamentos esparsos de um católico perplexo II: a convidada de Bento XVI. um comentário, que não será publicado, dizendo uma série de tolices que passam pela cabeça de muitos católicos e que talvez seja bom esclarecer. Ele começa assim (sic): “Leigos com capacidade de condenar um PAPA, justamente aquele teve peito, por exemplo, a lançar uma Carta Apóstolica colocando acesso dos fiéis a Missa na Forma Extraordinária do Rito Romano.” O post em tela critica e discorda de uma ação do Papa Bento XVI, apenas isso. A frase faz menção, inexplicavelmente, ao Motu Proprio Summorum Pontificum. Meu post não se relaciona ao Motu Proprio e nada afirma sobre a Missa. Mas o leitor quer mostrar quão bonzinho foi o Papa e porque não devemos criticá-lo. Nisto ele desconhece toda a história recente da Igreja e o quanto devemos este “movimento próprio” do Papa ao excomungado Dom Lefebvre e à Fraternidade São Pio X. Não houvesse a resistência heróica de Dom Lefebvre e a contínua luta da FSSPX, não haveria oSummorum Pontificum. Tudo para ser movido precisa de um movedor, dizia Aristóteles; se quiserem descobrir o movedor do “movimento próprio” do Papa Bento XVI, olhem para Dom Lefebvre.

O leitor segue em seu comentário dizendo: “Não vi ninguém neste BLOG contactar (de coração aberto) o vaticano e pedir explicações como cristãos, e enfim podermos entender as suas ações. Acho que assim este BLOG pretaria uma ação coerente.” Deixemos o português de lado e concentremos no essencial. Aqui, neste modestíssimo blog, só há o blogueiro, que conta com a ajuda eventual de seus dois filhos. Não somos uma multidão. Não contatei o Vaticano para pedir explicações sobre Assis e particularmente sobre Kristeva, porque não me ocorreu nenhuma dúvida a este respeito. Eu não tenho dúvida que foi pelo espírito de ecumenismo do CVII que Bento XVI convidou Kristeva; este mesmo espírito ao qual todo verdadeiro católico tem o dever de se opor. O leitor fala ainda de um conceito de obediência e respeito que é completamente equivocado. Nosso respeito e dever de obediência não devem ultrapassar o limite das leis de Deus e da Igreja. Veja o que Dom Antônio Castro Mayer dizia sobre isso; os negritos são meus.

“‘O que pode dar-se, é normal que, por vezes, aconteça’, comentava Santo Tomás. O Vaticano II exemplifica o aforismo. Concílio ecumênico, sem dúvida, mas que, por determinação de seus próprios autores, exclui de seus decretos qualquer definição nova, qualquer dogma novo. Por isso seu magistério – como o de todos os concílios ecumênicos – é oficial, não, porém, infalível. Prestou-se à possibilidade de carrear, para os fiéis, declarações ou afirmações destoantes do conteúdo revelado tradicional.

“E assim se passou. Ninguém, com efeito, que tenha cabeça no lugar, poderá dizer que a liberdade assegurada pelo Concílio, de cada qual seguir sua religião, não contradiz o dogma de que fora da Igreja não há salvação. Com efeito, este dogma, sancionado pelo IV Concílio de Latrão, obriga-se a ser Católico Romano e isso sob pena de condenação eterna nas chamas do inferno. Conclui-se que, quem segue conscientemente tudo quanto o Vaticano II propugna, desconhece dogmas revelados, colocando-se fora da Igreja de Cristo, pois basta recusar pertinazmente uma só verdade revelada para se perder a fé.”

Então, caro leitor, se for para respeitar um bispo da Igreja nesta matéria, prefiro respeitar Dom Mayer. Suas críticas, tais como as de Dom Lefebvre, nestas e noutras questões acerca do Concílio Vaticano II nunca, repito nunca, foram respondidas pelo Vaticano, apesar das várias comunicações que foram feitas entre eles e os vários Papas. Seria inútil o modesto blogueiro perguntar algo ao Vaticano sobre isso.

Mas o leitor fala de obediência e respeito (certamente respeito humano, que é condenado por todos os santos da Igreja) para com padres, bispos e Papa. Este leitor certamente seria ariano no tempo do arianismo e teria enlouquecido no tempo do grande Cisma do Ocidente. No arianismo, ele teria aderido às idéias de quase todos os bispos que se tornaram hereges juntamente com Ário; por obediência, é claro. Ele teria apoiado os vários exílios a que foi submetido Santo Atanásio, quase o único bispo que se opunha ao arianismo. No grande Cisma ele teria enlouquecido ao ver, de um lado Santa Catarina de Sena apoiando Urbano VI, e de outro São Vicente Ferrer apoiando Clemente VII. De fato, muita gente enlouqueceu, figurativamente, e este cisma preparou, juntamente com outras circunstâncias, a Reforma Protestante do século XVI. Santa Catarina chama Clemente VII de anticristo e seus seguidores – padres, bispos, cardeais – de hereges. Veja o que ela fala a três cardeais italianos: “Essa heresia não é cegueira de ignorância, ou seja, efeito da falta de conhecimento. Convosco não aconteceu que outras pessoas vos dissessem algo de diferente. Não. Vós conheceis a verdade, vós a tínheis anunciado a nós. Não fomos nós que comunicamos a vós a fé. Como sois loucos! Destes a nós a verdade e ficastes com a mentira.”

Você cita, caro leitor, justamente Santa Catarina como um exemplo de obediência cega a todo padre. Veja o quanto está enganado.

Você diz ainda, muito equivocadamente: “Não estou discutindo se o que é certo é certo, ou o que se o que está errado, se é errado? Trata-se de ocupar nosso lugar como leigos, com HUMILDADE?” O quanto seu conceito acerca da humildade e do papel dos fiéis leigos está errado! Se o ser humano não está sempre preocupado com o certo e o errado, ou seja, com a verdade, ele abre mão justamente daquilo que o torna humano. Eu estou preocupado, preocupadíssimo, com o que está certo e errado, sempre; rezo por isso, peço a Deus que eu não perca nunca a capacidade de discernimento.

Você ainda mostra todo o seu equívoco quando lembra a aceitação de Nossa Senhora da suprema graça de ser Mãe de Deus: “Eis aqui a serva do Senhor”. E você pergunta: “um ESCRAVO tem direito a opinião????” Meus Deus, quanta ignorância! O ato da Virgem Santíssima só teve mérito porque ela poderia ter dito não, porque ela poderia ter exercido seu livre arbítrio. O que ela fez foi entregar sua vontade, sua opinião, todo o seu ser aos desígnios de Deus! E só faz isso quem tem vontade, opinião e possibilidade de exercê-las.

Termino esse post contando ao leitor indignado um caso que ilustra bem o que os leigos católicos têm feito ao longo da história da Igreja. Quando Santo Atanásio foi exilado pela segunda vez (de um total de cinco), Gregório da Capadócia assumiu a diocese de Alexandria, a diocese do santo. Gregório se comportou mais como gangster do que como bispo. Ele assistia passivamente a monges serem martirizados, virgens serem violentadas, tudo pela implantação do arianismo em sua diocese. Os leigos, estes que o leitor acha que não têm direito a opinião, que devem ser humildes, vendo que o Imperador não ia tomar nenhuma providência, simplesmente assassinaram Gregório! Logo depois, por várias pressões, o Imperador permite que Atanásio reassuma triunfalmente sua diocese. Isto deve horrorizar meu pobre leitor.

Fonte: Blog do Angueth

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