quinta-feira, 15 de setembro de 2011

A Igreja e as estatísticas


Dias atrás, quando fomos informados pelo Papa Bento XVI que a próxima Jornada Mundial da Juventude será realizada no Brasil, em 2013, a mídia, com base em pesquisa de 2009, divulgou notícia a respeito do aumento numérico de outros seguimentos religiosos não católicos, inclusive dos que optam por não ter nenhuma religião ou que preferem o ateísmo.

As jornadas mundiais da juventude têm demonstrado a ansiedade das novas gerações na busca de Jesus Cristo, reunindo milhões de rapazes e moças do mundo inteiro, formando, por uma semana, imensa comunidade juvenil sem limites geográficos, reunida ao redor do chefe visível da Igreja, pronta para ouvir a sua palavra e motivada a celebrar os Mistérios da fé, com entusiasmo e ao mesmo tempo com sensível espírito de concentração, silêncio sagrado, como ficou evidente em Madri.

As estatísticas brasileiras a respeito da mobilização religiosa são colocadas aos católicos como um desafio, provocando pergunta inevitável: quais têm sido as razões para este efeito?

Num primeiro momento, os dados colhidos em pesquisa não deixam de causar preocupação, uma vez que despertam a interrogação sobre as possíveis lacunas nos métodos evangelizadores. Porém, análise mais madura e serena provoca tranqüilidade. Levando-se em consideração que o método das pesquisas de 2009 foi questionável, o que gerou, na ocasião, abalizado artigo de protesto do Cardeal Dom Odilo Sherer, é curioso observar como as pesquisas não revelam o crescimento das comunidades católicas que tem provocado a criação de novas paróquias por todo o Brasil, novas comunidades e o crescimento inexplicável de movimentos eclesiais católicos que cada vez mais arrebanham pessoas desanimadas ou desiludias não só religiosamente, mas também com a situação existencial, para não falar das que perderam a fé nas correntes políticas no país. Influenciada pela mentalidade mercantilista de concorrência, muito própria dos regimes capitalistas, causando impressão que somente o critério da maioria é que vale, ou pela mentalidade totalitarista que imprime a crença na força do poder e a desastrosa crença que os fins justificam os meios, gerando violência para impor regimes políticos, as estatísticas pecam contra a verdade enquanto revelam apenas parte da situação.  O prejuízo fica ainda maior, se por trás das pesquisas houvesse interesses ideológicos contrários à religião ou a grupos que incomodem. A Igreja católica, já afirmou o Papa Bento XVI em Aparecida, cresce não por proselitismo, mas por atração. Ela, com sua experiência de dois mil anos de história, já aprendeu a não se assustar com as estatísticas e nem com as interpretações ingênuas. Ela também já aprendeu a reconhecer erros das pessoas humanas que fazem parte de sua comunidade e sabe fazer exame de consciência; sabe inclusive pedir perdão pelas falhas humanas, coisa que não se tem visto em outros grupos religiosos ou não, certamente conscientes que errar não é característica de um só grupo, mas do ser humano como tal. Há os que afoitamente e ingenuamente caem na tentação de prognosticar o fim da Igreja católica, como se fenômenos sociológicos fossem a última palavra em tudo. A história não dá saltos. Ela ensina aos que são mais aptos a realizar análises maduras.

Aos católicos tranqüilizo, recordando que esta situação estatística não é a pior pela qual já passamos. Dou um exemplo: no fim do século XVIII, Napoleão Bonaparte prognosticou o fim da Igreja, quando prendeu injustamente o Papa Pio VI, levando-o como se fosse um criminoso para a França, jogando-o literalmente numa masmorra e gritando como vitorioso: Pio VI e último. Conseguiram os anticlericais franceses da revolução que muitos que professavam a fé católica e inclusive alguns eclesiásticos abjurassem a fé cristã o que provocou profunda dor à Igreja. Mas a história andou por outros caminhos. Sendo eleito o Papa Pio VII em lugar de Pio VI que morreu na masmorra de Napoleão, foi o novo Papa também aprisionado pelo imperialista francês de forma humilhante e desumana. Contudo, em 1814, quando Napoleão perde a credibilidade e a força política, sendo extraditado da Franca, o Papa é liberto e volta para Roma, aclamado em todas as cidades e povoados por onde passava em viagem, glorioso, mas sem se prevalecer de sentimentos de revolta ou de argumentos políticos. A Igreja não se envolve com paixões políticas ou por espírito de disputa, mas age para divulgar a única verdade que vale a pena ser assumida de corpo e alma: Jesus Cristo e sua missão salvadora. Eis o que sempre ensinou a Igreja. Eis o que os jovens têm recebido nas Jornadas Mundiais da Juventude
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***Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora - MG

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