domingo, 7 de agosto de 2011

O auto-domínio

O auto-domínio é a base de todas as virtudes. Logo que nos tornamos escravos das paixões ou dos instintos, perdemos a principal garantia da vida moral: o comando do "eu". Aquele que, sem resistência alguma, cede aos seus desejos sensuais não é um homem de caráter; não merece mesmo já o nome de homem, porque ser homem significa que se sabe imperar e resistir às exigências grosseiras do corpo. Na vida, ficamos, muitas vezes, consternados por ver quanto, não só as crianças, em que a atração dos sentidos é quase natural, como também os adultos agem sob a influência do primeiro momento em que o auto-domínio é tão fraco. Seria no entanto, este domínio que os levaria, antes de agir, a perguntar-se se a sua ação é justa e reta, conforme ao fim intentado, e quais as suas consequências. As repentinas vagas de cólera, de orgulho ferido e de sensualismo levam-nos a praticar atos que, 5 minutos depois, lamentamos.
Um número considerável de pecados deste mundo nunca seriam cometidos, se os homens se exercitassem seriamente nesta virtude:saber dominar-se a si próprios.
No tempo do paganismo, o pintor Nicodromus deu, um dia, uma brutal bofetada ao filósofo Crates. Pois, sabes com Crates se vingou? "Pagou-lhe na mesma moeda!" - pensarás tu. Enganas-te. Procedeu assim: na face inchada colocou um bilhete com esta inscrição:"Foi Nicodromus que me fez isto". E toda a cidade ficou sabendo assim que o pintor tinha um fraco caráter, porque não sabia dominar os ímpetos da sua cólera.
Quem brinca com a vida
bem não acabará;
o que não se domina
escravo seu será.
(Goethe)
Um dos meus alunos, num caso semelhante, agiu, um dia, de uma maneira muito diferente. Tinha, sem querer, empurrado um colega. Este, colérico, volta-se para ele: "Olha! és um grande animal!". E sabes o que o meu amigo lhe respondeu, com voz calma e polida?"Mas, por favor, ainda só agora o sabes?..."
É inegável que, hoje, a maior parte dos homens tem uma maneira de pensar demasiadamente materialista. É um fato bem triste. Acontece, porém, que estas pessoas, presas na lama, têm uma admiração profunda pelo homem em quem o espírito triunfou da matéria. Com que entusiasmo o mundo inteiro não acolheu, há alguns anos, a boa notícia de que Amundsen, o explorador intrépido que sofrera tantas privações, tinha enfim atingido o pólo Sul! E como foi sincera e unânime a compaixão quando se soube que Shakletonmorrera de frio a algumas léguas do seu destino! Ora, o que é que a humanidade honra assim nestes exploradores - que não descobriram nem minas de diamantes, nem construíram máquinas novas - senão a vitória do espírito, da alma, sobre o corpo, a matéria, as forças da natureza?
Um dia, numa pequena cidade da província, encontrei um rapazinho banhado em lágrimas. Chorava porque o seu "papagaio" que levou dias inteiros a fazer e a ornamentar e que acabava de lançar no espaço, tinha ficado preso nos fios telefônicos. A cada sopro de vento o magnífico "papagaio" agitava-se cada vez mais, e a criança, qu e via de minuto a minuto rasgar-se sempre mais, soluçava desesperadamente. Nada podia, absolutamente nada, para impedir a ruína da bela obra que tinha feito com tanto carinho.
Nos jovens a alma está sempre pronta a voar para as alturas; mas, ai! prende-se muitas vezes nos bandos de areia dos sofismas, nos rochedos da moral ou nas redes das paixões; e é em vão que ela depois se debate para recuperar a liberdade. O pobre rapazinho lamentava-se vendo o seu "papagaio"destruir-se nos fios que o tinham captado no seu primeiro voo.
Tem cuidado, meu filho, não vá a tua alma, no seu voo para as alturas, ser igualmente retida pelas garras das paixões ou emaranhada na floresta das tuas forças instintivas!

 Fonte: MJCB

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