quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Confessai-vos com frequência !!!!




D. — E agora, Padre, tenha a bondade de me dizer: com que freqüência é bom chegar-se à Confissão?
M. — Com a máxima freqüência possível. Os Santos foram os primeiros a dar-nos o exemplo, tanto que pode parecer exagero a freqüência com a qual se chegavam à Confissão.
Citarei alguns deles: São Francisco no seu regulamento de vida, escrevia: Confessar­me-ei de dois em dois e, no máximo, cada três dias. São Vicente de Paula confessava-se duas vezes por semana, São Felipe Néri um dia sim e outro não, e o mesmo queria que fizessem os seus religiosos. São Vicente Ferrer, São Carlos Borromeu, Santo Inácio de Loiola, São Luiz Bertrando, Santo André Avelino e muitos outros se confessavam diàriamente.

D. — Mas, Padre, isso é exagero; talvez o fizeram por passatempo ou por escrúpulo.
M. — Nada disso. Todos eles eram trabalhadores, bem longe estavam, de se deixarem dominar pelos escrúpulos. Faziam-no para se manterem numa grande pureza de consciência, e para poderem gozar das inúmeras vantagens deste Sacramento.
São Leonardo de Porto Maurício, o infatigável apóstolo italiano, depois de ter tido o belo hábito de se confessar diariamente com constância, chegando aos quarenta e dois anos, pensou em duplicar a dose e escreveu no seu regulamento particular: "De agora em diante confessar-me-ei duas vezes por dia, para aumentar a graça que espero tornar maior com uma única confissão do que com muitas boas obras, de qualquer espécie".

D. — Padre, creio que aqui podemos aplicar provérbio: o apetite vem comendo!
M. — É mesmo! Quando se trata de confissão freqüente é assim mesmo. Felizes daqueles que sentem essa fome e essa sede espiritual, enquanto que aqueles que ficarem afastados morrerão de inanição.

D. — Diga-me, Padre, esses Santos usavam esse remédio divino só para uso próprio?
M. — Pelo contrário! Inculcavam-no constantemente nos outros, e se tornavam seus dispenseiros generosos à custa dos maiores sacrifícios. S. Felipe Néri costumava pregar que, se ele estivesse com um pé no Paraíso, e se alguém o chamasse para confessar, teria voltado para ouvi-lo.
Santo Antônio pregava ao seu povo: Mesmo que eu esteja descansando venham, batam a porta, acordem-me para que eu os possa confessar. São Francisco de Sales interrompeu uma viagem para confessar um pobre velho. Quê direi então do Beato Sebastião Volfré, do Beato Cafasso, São João Borco e outros tantos sacerdotes que passavam noites inteiras no confessionário, até mesmo nos hospitais e nas prisões?

D. — Isto prova que a confissão é tudo, não é Padre?
M. — Justamente! É com isto que conseguiam sanear cidades e nações corrompidas pelos maus costumes. É por este ministério que se distinguem os verdadeiros artífices do Evangelho.

D. — Quanto a mim, Padre, quanto mais eu me confesso, pior eu fico... tenho sempre mais defeitos.
M. — Isso não é verdade! São defeitos que você já tinha e não conhecia. A confissão o ilumina para que você os deteste, os combata e os corrija. "Cada absolvição, diz-nos o admirável Santo que foi S. Francisco de Sales, cada absolvição é um novo sol que ilumina a câmara escura da consciência".

D. — Se assim é, todo o cristão devia chegar-se a confissão o mais possível. Todavia não haverá uma regra para as diversas classes de pessoas?
M.— Há sim; e é esta: Para viver uma "vida cristã" basta confessar-se tantas vezes quantas forem necessárias para evitar o pecado mortal, porque com o pecado mortal, nossa alma está morta, e não somos filhos nem apóstolos de Jesus. Para levar uma vida piedosa, o mínimo que podemos fazer é ao menos uma confissão por mês, digo ao menos porque, podendo, seria preferível que nos confessássemos mais a miúdo, não deveríamos conciliar uma devoção sincera com a negligência de um tal meio de santificação.

Para almas realmente fervorosas, que aspiram a uma união íntima com Deus, é indispensável a Confissão semanal, pois que a confissão é não só o remédio, mas também um fortificante, e precisamos freqüentá-la com curtos intervalos de tempo, afim de que o seu efeito não sofra interrupções.

D. — Padre, o que vem a ser essa união íntima com Deus?
M. — É o que os teólogos chamam de "vida íntima", o Santo Vianney, cura de Ars, a descreve assim: "A vida interior é um banho de amor no Sangue de Jesus Cristo no qual a alma mergulha e fica como afogada. Deus sustém estas almas como uma mãe sustém a cabeça de seu filho entre as mãos para cobri-la de beijos e carícias".

D. — Como são felizes essas almas! E a confissão semanal é necessária para elas?
M. — É, e não devemos deixá-la por negligência porque todos os outros meios não seriam bastantes sem constância na confissão.

D. — Padre, não seria bom se nos confessássemos até mais de uma vez por semana, como os Santos?
M. — Tratando-se de sacerdotes, respondo afirmativamente, segundo o conselho e a prática dos Santos. Sendo eles os dispenseiros quotidianos do Sangue de Jesus Cristo na confissão, quem ousaria limitar-lhes o uso?
Tratando-se de outras pessoas, contanto que não estejam em estado de pecado mortal, a melhor regra é a de se confessarem uma vez por semana.

D. — Por quê?
M. — Porque uma longa experiência nos mostrou de perto que, salvo poucas exceções, a confissão mais freqüente que de oito em oito dias, principalmente quando se trata de mulheres, não forma almas santas, ruas as torna escrupulosas e egoístas. Quem sentir maior desejo de absolvição recorra à absolvição espiritual.

D. — Absolvição espiritual?!... Eu nunca ouvi falar nisso, Padre.
M. — Entretanto, assim como há a Comunhão espiritual há também a absolvição espiritual. Nem isso deve causar-lhe admiração: se a "contrição perfeita" com o desejo da confissão, é capaz de cancelar da nossa alma os pecados mortais, também pode certamente produzir o mesmo efeito com os veniais.

D. — Assim, não é só uma absolvição por semana que podemos obter, mas quantas quisermos, mesmo mais de uma por dia?
M. — Justamente!

D. — Mas, se estivermos em estado de pecado mortal e se houver possibilidade de nos confessarmos?
M. — Então vão se confessar quantas vezes for necessário, e o mais cedo possível, quanto a mim, devo dizer que sempre me arrependi todas as vezes que adiei a confissão. Até bom que ponham em prática a conselho de São Felipe Néri e do seu digno imitador D. Bosco: "Nunca te vás deitar para dormir com um pecado mortal na alma".

Monsenhor de Ségur conta que um menino tinha justamente prometido a Jesus que nunca haveria de ir dormir com pecado na alma. Ora, aconteceu que, tendo ele um dia cometido um pecado, quis cumprir a promessa. Apesar de ser já noite, criou coragem, foi confessar-se e voltou agradecendo a Deus de coração pelo que fizera. Bom para ele Assim que se deitou adormeceu e, dormindo sonhou com Jesus e Maria Santíssima; ouviu as melodias celestiais e voou, voou pelo espaço infinito do Paraíso. De manhã, sua mãe, vendo que ele demorava muito para se levantar, foi acordá-lo; chamou-o e ele não respondeu, sacudiu-o e ele não se mexeu. Estava morto! E, no seu rosto, cândido como um lírio brilhava a auréola dos santos!

D. — Feliz criança! A confissão livrou-a do pecado e do inferno.
M. — Justamente! Podemos pois chegar à conclusão de que, se a confissão é muitas vezes penosa, o seu fruto é sempre doce e suave, que a inocência, a castidade, a felicidade, o dever, a vida cristã e por conseguinte a verdadeira alegria e a paz, são frutos da confissão freqüente; que da mão direita do confessor, derivam sempre vantagens infinitas; que ela é um meio poderoso de educação e que podemos temer tudo da parte de quem não se confessa.

Um ministro inglês, desejando conhecer Dom Bosco, do qual tanto ouvia falar, e, para aprender o seu método de educação, foi para Turim e pediu licença para visitar o Oratório Salesiano, Dom Bosco acolheu-o com benevolência e acompanhou-o na visita daquela casa enorme. A maravilha do ministro aumentava à medida que atravessava laboratórios e repartições, e ele elogiava a ordem e a disciplina perfeita que ali reinava. Mas quando foi introduzido na sala enorme, onde estudavam, com a máxima seriedade, e no meio do mais perfeito silêncio, mais de quinhentos jovens, vigiados somente por dois seminaristas, a surpresa transformou-se em estupor e, virando-se para D. Bosco exclamou:

— Senhor Abade, não sabe que isto é um espetáculo magnífico? Diga-me, por favor, qual é o seu segredo para obter tanto silêncio e tanta disciplina?
— Senhor Ministro, respondeu Dom Bosco, o meu segredo não serve para os senhores.
— E por quê?
— Porque pertence aos católicos, e os senhores são protestantes. O meu segredo é a confissão freqüente e semanal.
— Sendo assim, falta-nos realmente esse poderoso meio de educação; mas não o poderíamos suprir por outros?
— Eh! não! Quando não se usa esse elemento de religião, é preciso recorrer à bengala.
— Então, Padre, ou bem a religião, ou bem a bengala?
— Sim, ou religião ou bengala.
— Muito bem, muito bem! Ou religião, ou bengala: compreendo, quero contar isso em Londres.


Ângelo Brofferio, grande advogado e insigne poeta piemontês, tendo perdido a velha e fiel criada, tomou a seu serviço uma moça de vinte anos, natural de Castelnuovo Calces, sua pátria. Depois de poucos dias, a empregada chega-se ao patrão, e chorando lhe diz:

— Desculpe-me, patrão, mas eu não posso continuar trabalhando para o senhor.
— Por quê?
— Porque o senhor não é muito de Igreja e naturalmente não me deixará assistir à Missa nos dias de festa e nem tão pouco que eu me confesse.
— E quem foi que lhe disse isso?
— Todos o dizem, fornecedores e inquilinos.
— Pois bem, você ficará trabalhando aqui e irá a missa todas as manhãs e irá confessar-se todos os domingos, porque acho que tudo se pode esperar de quem se confessa.

D. — Então, Padre, mesmo os que não são católicos praticantes acreditam na confissão e a exaltam?
M. — É justamente o que acontece!

D. — Mas por quê não fazem uso dela então?
M. — Porque têm medo de serem vencidos por ela. Eles sabem muito bem que a confissão é a varinha mágica, o anel encantado que faz prodígios, sabem que seria a alavanca poderosa que os levantaria acima dos vícios nos quais estão submersos, e justamente por isso a exaltam, mas fogem dela.

D. — Coitados! São como os doentes que se recusam a sarar de pena de deixar o hospital.
M. — Aqui, porém, não se trata de hospital, mas do perigo, da quase certeza de uma morte má, de um inferno eterno.

Falando nisso, lembro-me da anedota do menino teimoso:
Dois irmãozinhos foram mandados à escola para aprender a ler. O professor recebeu­os com carinho e, começou pelo primeiro, fazendo-o repetir o alfabeto. Quando o pequeno acabou, elogiou e lhe deu um prêmio pela lição bem recitada. Preparou-se em seguida para fazer o mesmo com o segundo, e, com o livro na mão disse-lhe: "Vamos, agora é a sua vez". O rapazito olhou de esguelha para o professor e não abriu a boca. “Vamos diga a, você quer que pensem que seu irmão é mais aplicado do que você”? Será que é tão custoso dizer: a? O menino continuou mudo. "Por favor, não me faça perder a paciência, do contrário, logo no primeiro dia as coisas acabarão mal".

Foi tudo inútil: nem prêmios, nem ameaças, nem promessas, nem castigos, conseguiram induzir o cabeçudo a proferir uma única sílaba. Mais tarde, quando interrogado pelos colegas sobre a razão de teima, explicou: "Se eu disser a, tenho que dizer b e depois c e aprender a ler, e a escrever, e depois vem a gramática e outras tantas complicações de ciências, e essa embrulhada não acabará senão no fins de muitos anos".

D. — Ah! que espertalhão. Nem queria começar para não ter que continuar!
M. — É assim mesmo! E no nosso caso então!
Quantos são aqueles para os quais é um aborrecimento começar a viver como bons cristãos, pela simples e única razão que, uma vez começado, é preciso continuar. E assim os coitados, vivendo numa espécie de Paraíso aqui na terra, deverão, depois de poucos anos, apresentar-se diante de Deus com as mãos vazias, e, o que ainda é pior, com a alma carregada de pecados, de remorsos e talvez até de escândalos, pelos quais serão condenados eternamente!

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