quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Entrevista com Monsenhor Georg Ratzinger

Entrevista concedida por Monsenhor Georg Ratzinger, irmão mais velho de Sua Santidade Bento XVI.

 "A música sacra é também hoje uma oportunidade para se aproximar do universo da música em geral."
Palavra de Monsenhor Georg Ratzinger, irmão do Papa Bento XVI, por décadas diretor do coro Los Garriones da catedral de Ratisbona. No dia 25 de outubro passado foi condecorado com o prêmio "Fundação pró música e arte sacra", ligado ao Festival internacional de música e arte sacra dedicado ao Papa Bento em seu quito ano de pontificado. Monsenhor Ratzinger vai com frequência à Roma. Nos últimos dias foi operado do joelho e agora enfrenta com seu habitual bom humor e disciplina a terapia de reabilitação, preparando-se para volver logo à Roma, para poder ver seu irmão.

Qual é sua primeira recordação de seu irmão mais novo?

É difícil responder e recordar. Do nascimento me lembro pouco, éramos pequenos e inclusive no batismo não estive presente, porque foi batizado logo que nasceu, e nós os irmãos mais velhos, fomos embora porque fazia muito frio. Logo, na vida cotidiana este menino tão pequeno e sinceramente não sabia muito o que fazer com esse menino tão pequeno.
Logo, quando crescemos um pouco, eramos os dois varões e brincamos muito e fazíamos muitas coisas juntos. É verdade que no começo eu estava mais vinculado com minha irmã, porque éramos os dois filhos mais velhos em casa, entretanto, com o passar dos anos se construiu um contato mais intenso com o irmão mais novo. Nós dois preparávamos juntos o presépio e logo entre os jogos mais frequentes havia os jogos espirituais. Nós os chamávamos "jogo do pároco" e somente jogava nós dois, nossa irmã não participava. Nós brincávamos de rezar a missa e tínhamos casulas feitas pela costureira da mamãe exclusivamente para nós. E revesávamos, enquanto um era o celebrante o outro era o coroinha.
Logo veio o seminário e a paixão pela liturgia, a música, o estudo ... Foi um desenrolar contínuo. Desde de criança tínhamos um grande amor pela liturgia e isso proseguiu pouco a pouco no seminário, mas não se agregou a música fora da liturgia. Era tudo uma só coisa.

Naqueles anos e sendo jóvens, tinha preocupações, medos e esperanças pelo irmão mais novo que seguia seu caminho?

Não havia nenhum motivo para se preocupar. Sempre me interessei pelo que fazia, pelos seus projetos, mas serenamente.

E depois da primeira Missa?

Por três anos estivemos separados porque em 1947 Joseph foi para Munique e em 1950 nos reencontamos em Freising. Depois da ordenação, desde novembro de 1951 atéoutubro de 1952, estivemos em paróquias vizinhas. Eu trabalhava na Igreja de São Luís e Joseph na Igreja do Preciossísimo Sangue.
É verdade que apesar de tudo, Joseph aceitou se tornar professor em Bonn tambem em vista ajudar a família. Em 1955 nossos pais se mudaram por ele para Freising e em 1956 se mudou também nossa irmã e assim quando eu estava livre, sempre ia para Freising com a família. O irmão mais novo era a referência para todos, não era um problema para nós.

E quando se tornou bispo e cardeal?

Primeiro estivemos separados enquanto Joseph estava em Bonn, Müster e Tubinga. Logos nos encontramos finalmente em Ratisbona. onde eu dirigia os "Domspatzen" e meu irmão estava na universidade. Foi um tempo muito bonito e intenso, os três irmãos estávamos reunidos. Certamente com a nomeação e a mudança para Munique, ainda que a distância não fosse muita, era mais a falta de tempo que nos deixavam separados, pois Joseph estava comprometido com bispo e cardeal.

E a mudança para Roma?

Foi, de fato, um pouco como uma perda quando o transferiram para Roma, também porque sabia que para meu irmão era uma grande responsabilidade e que teríamos pouco contato.
Três vezes por ano eu ia para Roma, sobre tudo no verão, e no natal meus irmãos vinham comigo para sua casa em Pentling, que gostávamos muito, aquela era precisamente sua casa. Também aproveitávamos os compromissos fixos para nos vermos, como para a Ascenção , quando meu irmão vinha para o retiro espiritual e aproveitava para passar alguns dias em Pentling. Em Agosto saíamos de férias juntos e íamos a Bad Hofgastein, Bressanone e Linz.

E no periodo em que estavam separados, havia algum episódio particular que Joseph contava?

Sempre o momento mais belo era quando o cardeal chegava, que voltava a sua terra natal. Aterrissava  em Munique, o senhor Künel ia busca-lo, e quando eu ainda era diretor do coro, vinha para um jantar solene. Isso marcava o começo de suas férias e era muito bonito. E logo, depois que me aposentei este jantar se realizava em Lutzgasse onde ainda vivo. Era um verdadeiro rito de acolhida se bem que não havia uma apresentação do coral. E sempre se fazia um jantar com comidas escolhidas que ele gostava particularmente.

E agora, como o Papa o recebe em Roma? Há um rito?

É sempre um momento muito festivo e solene quando se desce do avião. No aeroporto me buscam com um carro acompanhado por carros da polícia. Todos são muito gentis, posso entrar no carro e me trazem em seguida aqui. E então penso em todos que devem tomar um meio público, os problemas com as bagagens e eu,  chegando selenemente ....
É sempre um recepção muito alegre por parte das memores, dos funcionários, irmã Cristina que fazem uma acolhida muito bonita. Logo vou visitar meu irmão no seu quarto. Esse é nosso primeiro encontro, e para mim é voltar à minha casa, nesta situação familiar com as memores e assim sucessivamente, e com o encontro com ele, quando contamos as últimas novidades.
Para mim, estar em casa é estar com meu irmão aonde quer que seja. E sinto que a familia papal se converteu em minha familia também.

Alguma lembraça do passado?

Maria completava o trio. Desde que ela se foi, não existe mais trio. Natualmete sua presença fazia presente também nossos pais.  Ainda que falte, ela foi sempre a pessoa que nos fazia pensar neles.

Há uma curiosidade que temos, o papa ainda tem gatos?

Sim, nós gostamos muito de gatos. Quando nos mudamos para Hufschlag tínhamos nossos gatos e outros passavam pelo jardim. Gostamos de gatos, mas agora temos só os de Pentling.

Qual é seu pensamento frequente para seu irmão?

Meu pensamento para ele é que cada manhã possa ter saúde e a força que necessita para realizar sua missão.

Voltemos a falar de música, vocês  tocam juntos agora?

Não juntos, porque não posso ler mais a música, somente posso tocar de memória.

E a quatro mãos?

Fazíamos quando éramos jóvens, mas não muito.

E como é o papa como pianista?

Sem dúvida tem muito talento que não se desenvolveu muito porque dedicou mais tempo ao estudo. Quando eu estava, era eu quem tocava, pois ele se sentia envergonhado e não tocava.

Tradução livre: EXTRA ECCLESIAM SALUS NULLA





















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