segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

São Pedro Julião Eymard


Aquele que havia de ser o fundador da Congregação do SS. Sacramento, Pe. Julião Eymard, parecia predestinado desde pequenino a ser um grande devoto da Eucaristia. Quando sua mãe, levando-o nos braços, ia à bênção do Santíssimo, o menino não se cansava de olhar para Jesus na custódia.

la com a mãe em todas as visitas à igreja e não se cansava nem pedia para sair antes dela. Sua irmã Mariana, que tinha dez anos mais e foi sua segunda mãe, costumava comungar com freqüência.

O irmãozinho, invejando-a, dizia:

- Oh! como você é feliz, podendo comungar tantas vezes; faça-o alguma vez por mim.
- E que pedirei a Jesus por você?
- Peça-Lhe que eu seja muito mansinho e puro e me dê a graça de ser padre.

As vezes desaparecia durante horas inteiras. Procuravam-no e iam encontrá-lo ajoelhado num banquinho perto do altar, rezando com as mãos juntas e os olhos pregados no sacrário.

Antes mesmo do uso da razão ansiava por confessar-se; mas não o admitiam. Quando tinha nove anos quis aproveitar a festa do Natal para "converter-se" como dizia. Apresentou-se ao vigário e depois ao coadjutor, mas, como estavam muito ocupados, não o atenderam.

Partiu, pois, com um companheiro, em jejum, e, fazendo uma caminhada de oito quilômetros sobre a neve, lá, na paróquia vizinha, conseguiu confessar-se.

- Como sou feliz - dizia - como estou contente! agora estou puro!
- Que grandes pecados havia cometido?

- Ai! cometi muitos pecados em minha infância: roubei um quepe (boné) numa loja e, depois, arrependido, voltei e deixei-o em cima do balcão.

Para preparar-se para a primeira comunhão começou a fazer penitências: colocava uma tábua embaixo do lençol, jejuava e quando a fome apertava, corria a fazer uma visita ao Santíssimo para esquecê-la.

Enfim, a 16 de março de 1823, chegou para ele o grande dia.
Que se passou neste seu primeiro abraço com Jesus?

Quando O apertava ao coração, dizia-Lhe:
"QUERO SER PADRE! EU O PROMETO"

Fonte: a grande guerra

domingo, 30 de janeiro de 2011

O exemplo de um príncipe


Foto do príncipe Dom João de Orleans e Bragança ajudando as vítimas das chuvas na região serrana do Rio de Janeiro em completo anonimato. Onde estão os defensores da República na hora em que o povo mais precisa? Aposto que se estivéssemos em tempo de eleições estariam todos ai!

Pela restauração da monarquia católica vos suplicamos Senhor!

sábado, 29 de janeiro de 2011

29/01: Dia de São Francisco de Sales, bispo e doutor

Hoje é um dia de grande alegria para nosso blog, pois a liturgia do dia de hoje nos recorda a memória de São Francisco de Sales, bispo e doutor da Igreja e também nosso querido padroeiro.
Quando criamos esse blog em agosto do ano passado decidimos escolhe-lo com padroeiro, pois além de ter sido um baluarte na luta contra os hereges protestantes (principalmente os calvinistas), São Francisco de Sales é tido como padroeiro dos escritores católicos.

Biografia de São Francisco de Sales


Fonte: lepanto


No início de novembro de 1622, São Francisco de Sales,  Bispo-Príncipe de Genebra, acompanhava o Duque da Sabóia na comitiva que ia de Chambéry a Avignon encontrar-se com o Rei Cristianíssimo, que era então o soberano francês Luís XIII. O Prelado aproveitou a ocasião para visitar os mosteiros da Visitação existentes no percurso, como cofundador que era dessa Congregação. Assim, chegou no dia 11 ao de Belley. 
Entre as freiras que, pressurosas, correram-lhe ao encontro, encontrava-se uma que ele muito estimava por sua inocência, virtude e simplicidade, e a quem por isso dera o nome de Clara Simpliciana. Esta, iliminado por luzes sobrenaturais, chorava desoladamente: "Oh, excelentíssimo Senhor!" disse-lhe sem subterfúgios, "vós morrereis neste ano! Eu vos suplico que peçais a Nosso Senhor e à Sua Santíssima Mãe que isso não ocorra".
-- "Como, minha filha?!", respondeu surpreso o Prelado. "Não, não o farei. Não vos alegrais pelo fato de eu ir  descansar? Veja: estou tão cansado, com tanto peso, que já  não posso comigo. Que falta vos farei? Tendes a Constituição e deixar-vos-ei Madre Chantal, que vos bastará . Ademais, não devemos pôr nossas esperanças nos homens, que são mortais, mas só em Deus, que vive eternamente". 
Tais palavras como que resumem a vida e a obra de São Francisco de Sales, cuja festa comemoramos no dia 29 de janeiro*. Embora ele contasse então com apenas 55 anos de idade e aparentemente não estivesse doente, entregou sua grande alma a Deus três dias antes que o ano terminasse, conforme predissera Irmã Simpliciana...  

A grande provação

Francisco de Sales, primogênito entre os 13 filhos dos Barões de Boisy, nasceu no castelo de Sales, na Sabóia, em 21 de agosto de 1567. Por devoção dos pais ao Poverello de Assis, recebeu seu nome e, chegado ao uso da razão, o menino escolheu-o por patrono e guia.
A virtuosa baronesa dedicou-se ela mesma, com a ajuda de bons preceptores, à educação de sua numerosa prole. Para seu primeiro filho escolheu, por sua piedade e ciência, o Pe. Déage, o qual, até sua morte, foi para Francisco um pai espiritual e guia. Acompanhava-o sempre, mesmo a Paris, onde o jovem barão radicou-se durante seus estudos universitários no Colégio de Clermont, dos jesuítas.
Com um precoce senso de responsabilidade e intuito de fazer sempre tudo que fosse da maior glória de Deus, Francisco estudou retórica, filosofia e teologia com um empenho que lhe permitiu ser depois o grande teólogo, pregador, polemista e diretor de consciências que caracterizaram seu trabalho apostólico.
Francisco, como primogênito, era herdeiro do nome de família e continuador de sua tradição. Por isso, recebeu também lições de esgrima, dança e equitação. Convencia-se porém, cada vez mais, que Deus o chamava inteiramente a Seu serviço. Fez voto de castidade perfeita e colocou-se sob a proteção da Virgem das virgens.
Aos 18 anos, o jovem enfrentou a mais terrível provação de sua vida:  uma tão violenta tentação de desespero, que lhe causava a impressão de ter perdido a graça divina e estar destinado a odiar eternamente a Deus com os réprobos. Tal obsessão diabólica perseguia-o noite e dia, abalando-lhe até a saúde. 
Ora, para alguém que, como ele, desde o início do uso da razão não procurava senão amar ardentemente a Deus, tal provação era o que havia de mais terrível.
Seria necessário um ato heróico para dela livrá-lo e ele o praticou: não se revoltava contra Deus, mesmo se Ele lhe fechasse as portas do Céu, e pedia, nesse caso, para amá-Lo ao menos nesta Terra.
"Senhor!" -- exclamou certo dia na igreja de Saint Etienne des Grés, no auge de sua angústia --, "fazei com que eu jamais blasfeme contra Vós, mesmo que não esteja predestinado a ver-Vos no Céu. E se eu não hei de amar-Vos no outro mundo, concedei-me pelo menos que, nesta vida, eu Vos ame com todas as minhas forças!".
Rezando depois humildemente o "Lembrai-Vos", aos pés de Nossa Senhora, invadiu-lhe a alma uma tão completa paz e confiança, que a provação esvaiu-se como fumaça. 

Calcando o mundo aos pés

Aos 24 anos, Francisco, com os estudos brilhantemente concluídos e já  doutor em leis, voltou para junto da família. O pai escolhera para ele a jovem herdeira de uma das mais nobres famílias do lugar. Apesar de sua pouca idade, ofereceram ao jovem doutor o cargo de membro do Senado saboiano. Humanamente falando, não se podia desejar mais.
Para espanto do pai, seu primogênito recusou tanto um quanto outro oferecimento. Só à mãe, que sabia de sua entrega a Deus, e a um tio, cônego da catedral de Genebra, explicou Francisco o motivo desse ato tido por insensato.
Faleceu nesse tempo o deão da catedral de Chambéry. O cônego Luís de Sales imediatamente obteve do Papa que nomeasse seu sobrinho para o posto vacante. Com muita dificuldade o Barão de Boisy consentiu enfim que aquele, no qual depositava suas maiores esperanças de triunfo neste mundo, se dedicasse inteiramente ao serviço de Deus. Não podia ele prever que Francisco estava destinado à maior glória que um mortal pode atingir, que é a de ser elevado à honra dos altares; e, por acréscimo, como Doutor da Igreja!...

Zelo anticalvinista

Os cinco primeiros anos após sua ordenação, o Pe. Francisco consagrou-os à evangelização do Chablais, cidade situada na margem sul do lago de Genebra, convertendo, com o risco da própria vida, empedernidos calvinistas. Para isso, divulgava folhetos nos quais refutava suas heresias, contrapondo-lhes as lídimas verdades católicas. O missionário precisou fugir muitas vezes e esconder-se de enfurecidos hereges, e em algumas ocasiões só se salvou por verdadeiro milagre. 
Assim, reconduziu ao seio da verdadeira Igreja milhares de almas seduzidas pela heresia de Calvino. Ao mesmo tempo dava assistência religiosa aos soldados do castelo de Allinges, os quais, apesar de católicos de nome, eram ignorantes em religião e dissolutos. Seu renome começava já a repercutir como grande confessor e diretor de consciências.
Em 1599, o deão de Chambéry foi nomeado Bispo-coadjutor de Genebra; e, três anos depois, com o falecimento do titular, assumiu a direção dessa diocese.

Apóstolo entre os nobres

Esse fato ampliou muito o âmbito de ação de D. Francisco de Sales. Fundou escolas, ensinou catecismo às crianças e adultos, dirigiu e conduziu à santidade grandes almas da nobreza, que desempenharam papel preponderante na reforma religiosa empreendida na época, como Madame Acarie (depois uma das primeiras religiosas carmelitas na França, morta em odor de santidade), Santa Joana de Chantal, com quem fundou a Visitação.  Inúmeras donzelas da mais alta nobreza abandonaram o mundo, entrando nos mosteiros dessa nova congregação, na qual brilharam pelo esplendor de sua virtude.
Todos queriam ouvir o santo Bispo. Convidado a pregar em toda parte, era sempre rodeado de grande veneração, tornando-se necessário escolta militar para  protegê-lo das manifestações do entusiasmo popular.
A família real da Sabóia não resistia à atração do Bispo-Príncipe de Genebra, convidando-o constantemente para  pregar também na Corte. E não era a mais alta nobreza menos ávida que o povinho de ouvir aquele que já consideravam santo em vida.
Em 1608, ordenou e publicou as notas e conselhos que dera a uma sua prima por afinidade, a Sra. de Chamoisy, num livro que se tornaria imortal: Introdução à vida devota. Essa obra foi ocasião de várias conversões e carreou muitas vocações para os conventos da Visitação.
São Francisco de Sales desenvolveu seu lema no extraordinário livro que escreveu para suas filhas da Visitação, a pedido de Santa Joana de Chantal, o célebre Tratado do Amor de Deus: "a medida de amar a Deus é amá-lo sem medida".

Glorificado na Terra e no Céu

Os contemporâneos do Bispo-Príncipe de Genebra não tinham dúvidas a respeito de sua santidade. Santa Joana de Chantal, sua dirigida e cooperadora que o conheceu tão intimamente, escreveu: "Oh! meu Deus! Atrever-me-ei a dizê-lo? Sim, di-lo-ei: parece-me que nosso bem-aventurado pai era uma imagem viva do Filho de Deus, porque verdadeiramente a ordem e a economia desta santa alma era toda sobrenatural e divina. Muitas pessoas me disseram que, quando viam este bem-aventurado, parecia-lhes ver a Nosso Senhor na terra".  E São Vicente de Paulo, sempre que saia de algum encontro mantido com São Francisco de Sales, exclamava: "Ah! quão bom deve ser Deus quando o excelentíssimo Bispo de Genebra é tão bondoso!  
Em seu leito de morte, o resplendor de seu rosto, que já  era visível em seus últimos anos de vida, aumentava por vezes muito mais, arrebatando de admiração os que o contemplavam.
Assim que faleceu, verdadeira multidão invadiu o convento das Visitandinas, em Lyon, na França,  para oscular-lhe os pés, tocar-lhe tecidos em seu corpo, encostar-lhe rosários. Ao abrirem seu corpo, os médicos constataram que o fígado do Santo se petrificara com o esforço que fizera sempre para dominar seu temperamento sangüíneo, e conservar constantemente aquela suavidade e doçura, aparentemente tão naturais nele, que conquistavam os corações mais empedernidos.
O culto ao santo começou no próprio momento de sua morte. E foi sempre recompensado, algumas vezes com estupendos milagres.
Durante a peste em Lyon, as irmãs visitandinas não bastavam para distribuir ao povo pedaços de tecido tocados no corpo do santo. Em Orleans, a Madre de la Roche mergulhava uma relíquia do venerado Prelado em água, a qual era distribuida à multidão enquanto durou a peste: um tonel por dia em média. Em Crest e em Cremieux, os representantes da cidade foram à igreja da Visitação fazer, em nome da cidade, voto solene de ir em peregrinação ao sepulcro do Bispo, caso cessasse a peste. E todos foram ouvidos.
Foi Santa Joana de Chantal quem iniciou as gestões para o processo de canonização de seu pai espiritual. Recolheu seus escritos privados, cartas, mesmo rascunhos não terminados, e trabalhou com afinco nesse sentido. Escreveu a autoridades civis e eclesiásticas e mesmo a Roma, pedindo que urgissem o início do processo de beatificação.
Mas a alegria de vê-lo elevado à honra dos altares ela só a teria no Céu, pois a celeridade dos processos humanos ficavam muito aquém dos desejos de seu ardente coração.
São Francisco de Sales faleceu em 28 de dezembro de 1622, tendo sido canonizado em 19 de abril de 1665.
O Papa Pio IX declarou-o Doutor da Igreja em 7 de julho de 1877. E Pio XI, na encíclica Rerum omnium,  de 1923, atribuiu-lhe o glorioso título de Patrono dos jornalistas e escritores católicos.

São Francisco de Sales, Rogai por nós!

*OBS: Muitos leitores podem estar se perguntando: A festa de São Francisco de Sales não é celebrada em 24 de janeiro? A resposta é simples: Tradicionalmente se celebra São Francisco de Sales em 29 de Janeiro, porém a reforma liturgica transferiu a festa para 24 de janeiro.  Como nosso blog é fiel à tradição e sabemos que a reforma do calendário liturgico foi extremamente prejudicial para a vida da Igreja decidimos celebrar nosso padroeiro no dia de hoje.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

O que os Santos da Igreja nos ensinam sobre o Santo Sacrificio da Missa?

SANTO AGOSTINHO:

Na hora da morte, as Missas à que houveres assistido, serão a tua maior consolação. Um dos fins da Santa Missa, é alcançar para ti o perdão dos teus pecados. Em cada Missa, podes diminuir a pena temporal devida aos teus pecados, pena essa que será diminuída na proporção do teu fervor.
Assistindo com devoção à Santa Missa, prestas a maior das honras à Santa Humanidade de Jesus Cristo. Ele se compadece de muitas das tuas negligências e omissões. Perdoa-te os pecados veniais não confessados, dos quais, porém, te arrependes; preserva-te de muitos perigos e desgraças que te abateriam.
Diminui o império de satanás sobre ti mesmo. Sufraga as almas do Purgatório da melhor ,maneira possível.
Uma só Missa a que houveres assistido em vida, será mais salutar que muitas a que os outros assistirão por ti depois da morte.
Será ratificada no Céu a bênção que do Sacerdote recebes na Santa Missa.

SÃO TOMÁS DE AQUINO:

O martírio não é nada em comparação com a Santa Missa. Pelo martírio, o homem oferece à Deus a sua vida; na Santa Missa, porém, Deus dá o seu Corpo e o seu Sangue em sacrifício para os homens.
Se o homem reconhecesse devidamente esse mistério, morreria de amor.
A Eucaristia é o milagre supremo do Salvador; é o Dom soberano do Seu amor.

SÃO JOÃO MARIA VIANNEY, o Cura d'Ars: 

Agradeçamos, pois, ao Divino Salvador por Ter nos deixado este meio infalível de atrair sobre nós as ondas da divina misericórdia.
A Santa Missa é uma embaixada à Santíssima Trindade; de inestimável valor; é o próprio Filho de Deus que a oferece.

SÃO JERÔNIMO:

Nosso Senhor Jesus Cristo nos concede tudo o que Lhe pedimos na Santa Missa; e o que mais vale é que nos dá ainda o que nem sequer cogitamos pedir-Lhe e que, entretanto, nos é necessário.
Cada Santa Missa a que assistires, alcançar-te-á, no Céu, maior grau de glória.

São João Crisóstomo:
 
Após a consagração, eu tenho visto esses milhares de Anjos formando a corte real de Jesus, em volta do tabernáculo, eu os tenho visto com meus próprios olhos

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

A autoridade de um Concílio Pastoral

Por algo provocadora que pareça para certos temperamentos demasiado apaixonados, a questão deve, no entanto, ser tranqüilamente examinada. Mas acima de sua conotação polêmica, ela abre em efeito o único debate do grau de autoridade dos textos promulgados durante o Concílio Vaticano II. A equação simplista que deduziria um grau supremo da autoridade pelo simples fato dos textos emanarem da maior assembléia conciliar nunca vista, não faz sentido. Em efeito é notório que um concílio não tem outra autoridade que aquela que o Papa conferiu a ele, sequer tacitamente. Ora, na matéria, Paulo VI foi formal: “Dado o caráter pastoral do Concílio, ele evitou pronunciar de uma maneira extraordinária algum dogma, não comportando a nota de infalibilidade”. (Audiência de 12/01/1966). Isso significa então que no Concílio, a Igreja não quis utilizar seu grau de suprema autoridade.

Um Concílio não infalível

Em efeito, tanto a aproximação pastoral querida por este concílio como seu estilo de redação – distante tanto das definições que de toda condenação-, não podia senão sublevar a questão da autoridade das constituições e decretos promulgados. Não questionemos a legitimidade de uma tal interrogação. Os padres conciliares eles mesmos foram obrigados a se fazerem esta pergunta, e isto no momento preciso onde se pedia para eles assinarem o texto central do Concílio, verdadeira chave indispensável à coesão do ensinamento conciliar: a constituição sobre a Igreja, declarada “dogmática” precisamente para conferir-lhe mais peso. Perplexos diante da singularidade de este texto, eles foram numerosos a interrogar a comissão central a este respeito, donde a nota anexada à Constituição dizia: “conforme ao uso dos concílios e ao objetivo pastoral do Concilio atual, este não definiu como obrigatórios para a Igreja senão apenas os pontos que dizem respeito à fé e à moral, que sejam claramente definidos como tais.” Ora, sabemos que estes pontos são, para assim falar, inexistentes. João XXIII os excluiu da ordem do dia, e Paulo VI dizia há um instante quanto este desejo foi respeitado pelos padres conciliares.
Uma primeira constatação deve, pois, ser admitida por toda reta consciência: se os ensinamentos do Vaticano II não pertencem às tenenda (verdades que “devem ser admitidas” de fé católica), eles não podem ser honestamente utilizados como critérios sine qua non da catolicidade. Empunhá-los como uma espada de dois gumes definindo os limites da comunhão católica demonstra então uma escolha ideológica, ou até revolucionária por alguns. Se Paulo VI, na audiência precitada, acreditou poder falar ao seu respeito de um magistério “ordinário supremo”, não pode ser, aos olhos de um teólogo, em razão do grau supremo de autoridade engajada, mas do só feito que estes ensinamentos emanam daqueles que, em direito, têm a capacidade de ensinar com este grau supremo. A distinção foi claramente posta por Dom Delhaye, no tempo em que ele era secretário da comissão teológica internacional: “uma coisa é possuir uma autoridade, outra coisa é exercê-la ou não, em razão, por exemplo neste caso, de uma certa concepção da pastoral.” (Vaticano II, dicionário teológico católico, Índices, col. 4330).

Textos contingentes, logo reformáveis.

Em um discurso célebre (discurso à cúria de 22/12/05), Bento XVI trás à luz um esclarecimento à nossa reflexão. Ele anunciou então um novo princípio hermenêutico (um novo princípio de interpretação), indispensável à justa apreensão dos textos do Vaticano II: “As decisões da Igreja no que atinge os fatos contingentes [devem] necessariamente ser elas mesmas contingentes”. Um tal princípio, para ser aplicado ao nosso sujeito, deve em primeiro lugar ser precisado. É evidente que ele não pode ser empregado sem discernimento, um só exemplo o provará suficientemente. Se a Igreja precisasse se pronunciar sobre um fato contingente contido no Evangelho -a verdade de um milagre, por exemplo-, Ela não o faria de nenhuma maneira contingente. Assim o papa precisa imediatamente o que ele entende por “fato contingente”: trata-se de uma “realidade determinada em si cambiante”. O caso do milagre, e mais geralmente do fato cumprido, fica, portanto, excluído. Mas, este esclarecimento não é suficiente ele só. É importante acrescentar que a decisão da Igreja não poderá ser dita contingente se não for na medida em que ela diz respeito precisamente ao aspecto mutante desta realidade determinada, mas não quando ela edita os princípios que permitem julgar a realidade concreta, por definição contingente. O primeiro caso pertence, em efeito, ao ato prudencial próprio ao governo -evidentemente contingente-, enquanto o enunciado dos princípios, -assim como a denúncia dos seus contrários-, é próprio ao Magistério contanto que ele garanta as verdades eternas. Encontramo-nos então numa matéria em que, longe de ser contingente e mutável, a asserção tange à conservação e exposição fiel da Revelação transmitida pelos apóstolos.
Feitas essas precisões, retomemos o texto de Bento XVI. Alguns gostariam sem dúvida de aplicar o princípio de hermenêutica do papa a certos documentos anteriores ao Vaticano II, por exemplo, Quanta cura ou o Syllabus, Quas primas ou Mortalium animos. Porém, nada indica que estes textos sejam simplesmente intervenções prudenciais. O contrário. Cada uma destas paginas revela os Papas preocupados de lembrar -e de defender com a mesma energia-, a verdade católica. Estamos no nível dos princípios, no domínio próprio do Magistério. Reduzir tais textos ao grau de contingências mutantes seria fazer prova de relativismo histórico.
Se há um texto ao qual seria necessário reconhecer uma tal contingência, é claramente, da opinião mesma de Bento XVI, o do Vaticano II. No seu discurso, o papa alemão não enuncia seu princípio de interpretação senão depois de ter escrito, com uma insistência surpreendente, o aspecto especificamente contingente que o concílio Vaticano II reconhece ter assumido. Sua tarefa fundamental consistia efetivamente em “determinar de maneira nova a relação entre a Igreja e a época moderna”, permitindo a Igreja de se dizer ela mesma “conforme as exigências do pensamento moderno”, segundo a expressão de João XXIII.
Dali as três missões do Concílio: “definir de maneira nova a relação entre a Fé e a ciências modernas [...] Em segundo lugar, era preciso definir de maneira nova as relações entre a Igreja e o Estado moderno [...] Isto estava ligado, em terceiro lugar, de maneira mais geral com o problema da tolerância religiosa –uma pergunta que exigia uma nova definição das relações entre a fé cristã e as religiões do mundo. Em particular, [...] era preciso avaliar e definir de maneira nova as relações entre a Igreja e a fé de Israel”. O campo semântico utilizado pelo papa é por si só expressivo dessa contingência. Em algumas linhas, o adjetivo “novo” volta 13 vezes para descrever o ensinamento do concílio num contexto “moderno”, – palavra utilizada 9 vezes. É somente então que o papa enuncia seu princípio interpretativo: “as decisões da Igreja no que concerne aos fatos contingentes (devem) necessariamente ser elas mesmas contingentes”.
Tal é o caso do Vaticano II, cujas decisões e decretos são conseqüentemente reformáveis.

Por uma sã crítica do Concílio

Antes mesmo que fosse promulgado, o concílio Vaticano II foi reconhecido como não infalível pelo próprio texto conciliar (nota anexa a Lumen Gentium), e depois por Paulo VI (discurso de 12 de janeiro de 1966). Quarenta anos mais tarde, Bento XVI dando uma primeira razão no seu discurso oficial, ainda que de maneira parcialmente implícita: um concílio, cujo objetivo primeiro e confessado foi de se adaptar ao que este mundo presente tem de contingente, não pode senão ser ele mesmo contingente. Contingente, logo reformável, por uma reforma que será ela mesma o fruto de uma crítica sã.
Precisamos enunciar os princípios de uma tal crítica, a fim de que ela seja construtiva. Sem pretender aqui a nenhuma exaustividade, nós citaremos apenas dois desses princípios, que aparecem com evidência.
O primeiro se encontra bem evidentemente no critério da Tradição. Se a palavra está ausente do discurso de Bento XVI, a idéia quanto a ela é expressa, mesmo se de forma negativa: a hermenêutica que constituiria uma ruptura com a Igreja pré-conciliar não é aceitável. Dito de outra maneira, toda hermenêutica -todo olhar crítico-, sobre os textos conciliares não pode senão situar-se numa lógica de continuidade e de fidelidade às verdades até aqui ensinadas pela Igreja.
Outro critério de julgamento deve igualmente ser avançado: aquele dos fatos. Porque a escolha conciliar é de ordem contingente, porque este posicionamento da Igreja frente ao mundo moderno revela uma decisão estratégica muito mais que um esclarecimento dogmático, importa estimar o seu valor à luz dos resultados. A estratégia, como a árvore (cf. Mt 7.20), se julga pelos frutos.
A tarefa se revela tão urgente como imensa. Não podemos senão desejar a transição rápida de uma visão bipolar que oporia de maneira excessivamente simples “recepção plena e inteira do Concílio” a uma “negativa sistemática”. Todos poderemos então, pela reflexão crítica, preparar o trabalho de clarificação que, em última instancia, não pertencerá senão apenas ao Magistério.

Padre Patrick de la Rocque, FSSPX

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Alteração no Episcopado

O Papa Bento XVI aceitou nesta quarta-feira, 26, o pedido de renúncia do bispo auxiliar de São Sebastião do Rio de Janeiro, Dom Assis Lopes, em conformidade com o cânon 401, parágrafo 1º do Código de Direito Canônico, que diz: "O bispo diocesano que tiver completado setenta e cinco anos de idade é solicitado a apresentar a renúncia do ofício ao Sumo Pontífice, que, ponderando todas as circunstâncias, tomará providências" (CDC, pág 128).

Dom Assis Lopes


Pequena biografia:

- Nasceu no Rio de Janeiro, RJ, a 19 de dezembro de 1934
- Ordenado Sacerdote a 03 de julho de 1968
- Nomeado Bispo Titular de Zarai e Auxiliar do Rio de Janeiro a 22 de janeiro de 2003
- Ordenação Episcopal a 19 de março de 2003
- Renúncia em 26 de janeiro de 2011
     

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Excelências do Poder Sacerdotal por Santo Afonso Maria de Ligório




Mede-se também a dignidade do padre pelo poder que ele exerce sobre o corpo real e o corpo místico de Jesus Cristo.
Quanto ao corpo real, é de fé que no momento em que o padre consagra, o Verbo encarnado se obrigou a obedecer-lhe, vindo às suas mãos sob as espécies sacramentais. Causou espanto que Deus obedecesse a Josué, e mandasse ao sol que se detivesse à sua voz, quando ele disse: Sol! Fica-te imóvel diante de Gabaon… E o sol deteve-se no meio do Céu.
Mas é muito maior prodígio que Deus, em obediência a poucas palavras do padre, desça sobre o altar, ou a qualquer parte em que o sacerdote o chame, quantas vezes o chamar, e se ponha entre as suas mãos, embora esse sacerdote seja seu inimigo! Aí permanece inteiramente à disposição do padre, que pode transportá-lo à sua vontade dum lugar para outro, encerrá-lo no tabernáculo, expô-lo no altar, ou ministrá-lo aos outros. É o que exprime com admiração S. Lourenço Justiniano, falando dos padre: “Bem alto é o poder que lhes é dado! Quando querem, demudam o pão em corpo de Cristo: o Verbo encarnado desde do Céu e desce verdadeiramente à mesa do altar! É-lhes dado um poder que nunca foi outorgado aos anjos. Estes conservam-se junto do trono de Deus; os sacerdotes têm-no nas mãos, dão-no ao povo e eles próprios o comungam”.
Quando ao corpo místico de Jesus Cristo, que se compõe de todos os fiéis, tem o sacerdote o poder das chaves: pode livrar do inferno o pecador, torná-lo digno do Paraíso, e, de escravo do demônio, fazê-lo filho de Deus. O próprio Jesus Cristo se obrigou a estar pela sentença do padre, em recusar ou conceder o perdão, conforme o padre recusar ou dar a absolvição, contanto que o penitente seja digno dela.
De modo que o juízo de Deus está na mão do padre, diz S. Máximo de Turim. A sentença do padre precede, ajuda S. Pedro Damião, e Deus a subscreve. Assim, conclui S. João Crisóstomo, o Senhor supremo do universo não faz senão seguir o seu servo, confirmando no Céu tudo quanto ele decide na terra.
Os padres, diz Santo Inácio mártir, são os dispensadores das graças divinas e os consócios de Deus. E, segundo S. Próspero, são a honra e as colunas da Igreja, portas e porteiros do Céu.
Se Jesus Cristo descesse a uma igreja, e se sentasse num confessionário para administrar o sacramento da Penitência, ao mesmo tempo que um padre sentado no outro, o divino Redentor diria: Ego te absolvo o padre diria o mesmo: Ego te absolvo; e os penitentes ficariam igualmente absolvidos, tanto por um como pelo outro.
Que honra para um súdito, se o seu rei lhe desse poder para livrar da prisão quem lhe aprouvesse! Mas muito maior é o poder dado pelo Padre Eterno a Jesus Cristo, e por Jesus Cristo aos padres, para livrarem do inferno, não só os corpos, mas até as almas; esta reflexão é de S. João Crisóstomo.

Santo Afonso Maria de Ligório
Livro "A Selva" Parte I

domingo, 23 de janeiro de 2011

Nota do Blog

Na nossa postagem anterior: "Oração extranhissíma feita pelo Papa João Paulo II no Vale do Rio Jordão", achei prudente de minha parte, retirar a última frase do post que dizia em negrito: João Paulo II: Papa Sim! Beato nunca!. Depois de uma reflexão cheguei a seguinte conclusão: Quem sou eu para julgar aquele que foi ecolhido para ser Papa de reis e rainhas??Acaso Deus conferiu a mim graça maior do que conferiu ao Papa João Paulo II??Quem sou eu, na minha pequenez e sendo apenas leigo, para contestar um ato de magistério que são as canonizações e beatificações?? Seria eu mais digno do que João Paulo II de receber as honras dos altares??
Certamente não cabe a mim, que sou mil vezes mais pecador, afirmar se o Papa João Paulo II merece ser beatificado ou não. Portanto peço perdão publicamente por este mau exemplo dado aos meus queridos leitores. Peço que rezem por minha alma para que o Senhor, Justo Juiz,  não leve em conta este meu delito.

Obrigado

Pedro Henrique
Blog Extra Ecclesiam Salus Nulla

sábado, 22 de janeiro de 2011

Oração no mínimo extranhissíma feita pelo Papa João Paulo II no Vale do Rio Jordão

Desejo saudar todos vós aqui reunidos para esta breve oração. Rezo em particular por Sua Majestade o Rei e agradeço-lhe de novo a hospitalidade que recebi aqui na Jordânia.
No Evangelho de São Lucas lemos que "Deus enviou a sua palavra a João, filho de Zacarias, no deserto. E João percorria toda a região do rio Jordão, pregando um baptismo de conversão para o perdão dos pecados" (3, 2-3). Aqui no rio Jordão, onde ambas as margens são visitadas por plêiades de peregrinos que prestam honra ao Baptismo do Senhor, também eu elevo o coração em oração:
Glória a vós, ó Pai,
Deus de Abraão, Isaac e Jacob!
Enviastes os vossos servos,
os Profetas, para transmitirem
a vossa palavra de amor fiel
e exortarem o vosso povo ao arrependimento.
Às margens do rio Jordão,
elevastes João Baptista,
uma voz que gritava no deserto,
enviado a toda a região do Jordão
para preparar o caminho do Senhor
e anunciar a vinda de Jesus.
Glória a vós, ó Cristo, Filho de Deus!
Viestes às águas do Jordão
a fim de serdes baptizado pelas mãos de João.
O Espírito desceu sobre vós
sob a forma do Espírito.
Os céus abriram-se acima de vós,
e ouviu-se a voz do Pai:
"Este é o meu amado Filho!".
Do rio abençoado pela vossa presença
partistes para baptizar não só com a água
mas com o fogo e o Espírito Santo.
Glória a vós, ó Espírito Santo,
Senhor e Dador da vida!
A Igreja é baptizada mediante o vosso poder,
descendo na morte com Cristo
e ressuscitando com Ele para a nova vida.
Pelo vosso poder, somos livres do pecado
para nos tornarmos filhos de Deus,
o glorioso Corpo de Cristo.
Pelo vosso poder, todo o temor é subjugado
e o Evangelho do amor é anunciado
em cada quadrante da terra,
para glória de Deus,
Pai, Filho e Espírito Santo,
a quem seja dado todo o louvor
neste Ano jubilar
e em todos os tempos vindouros. Amém!


Saúdo cordialmente os representantes das outras comunidades, aqui vindos de muitas outras partes do Médio Oriente. Estou grato a todos vós. Sinto-me particularmente próximo das crianças e dos jovens: sabei que a Igreja e o Papa têm grande confiança em vós!
Dirijo uma especial saudação a Sua Majestade real o Príncipe Mohammed. Recordar-me-ei do inteiro povo da Jordânia cristãos e muçulmanos nas minhas orações, de maneira particular dos enfermos e dos idosos.
Com gratidão, invoco abundantes bênçãos sobre Vossa Alteza o Rei e sobre toda a Nação.
Deus abençoe todos vós!
Deus abençoe a Jordânia!
São João Baptista proteja o Islão, todo o povo da Jordânia e todos aqueles que participaram nesta celebração, uma celebração memorável! Estou grato a todos vós. Muito obrigado!


Fonte: vatican.va

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Sacerdote da Diocese de Petrópolis acusa prefeitura de impedir auxílio a católicos vítimas das chuvas

A prefeitura de Teresópolis está sendo acusada de impedir a distribuição de donativos por parte da Igreja Católica. Segundo o padre Paulo Botas, integrantes da comunidade católica que foram até o estádio Pedrão ouviram de funcionários municipais que "nenhuma igreja católica de Teresópolis iria receber doações". A prefeitura desmente a informação - diz que não passa de boato e que a religião dos desabrigados não é fator levado em consideração.
"Falaram isso sem o menor constrangimento. O prefeito (Jorge Mário Sedlacek) é evangélico e não quer que a ajuda vá para os católicos. As pessoas se cadastraram, mas foram discriminadas. Nessa situação tão grave, não tem confissão religiosa, não pode ter essa competição ideológica. Isso é um pecado mortal, ainda mais vindo de pessoas cristãs", disse o padre, da igreja do Sagrado Coração de Jesus de Barra do Imbuí, área bastante afetada pelas chuvas.
Ele contou que foi alugado um galpão, na frente da igreja, para onde seriam levados roupas e alimentos que emissários recolheriam do montante estocado no Pedrão. A intenção era fazer do galpão um centro de distribuição para atendimento de moradores de bairros como Posse, Campo Grande e Espanhol, onde famílias inteiras morreram.
Sem querer entrar em detalhes sobre a religião do prefeito, o padre Mario José Coutinho, decano da Diocese de Petrópolis, disse que a situação é de boicote à Igreja Católica. "É surreal, uma ofensa, uma vergonha, uma agressão à humanidade. Transformaram uma questão humanitária em religiosa", criticou.
Amanhã, antes de rezar uma missa de sétimo dia no Imbuí, o bispo de Petrópolis, dom Filippo Santoro, terá uma reunião com o prefeito para discutir o assunto. Dos 21 abrigos abertos em Teresópolis, metade foi providenciado em igrejas evangélicas.

Fonte: Estadão

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

A triste realidade da Igreja Católica na França

Entrevista com o Cardeal-Arcebispo de Lyon Dom Philippe Barbarin.

Segundo o cardeal de Paris, André Vingt-Trois, quando Bento XVI foi à França todos viram que a imagem de uma Igreja francesa sem futuro não corresponde à realidade. É um otimismo excessivo?      

PHILIPPE BARBARIN: De fato, creio que nessa ocasião, em setembro do ano passado, vimos algo novo. A beleza da santa missa celebrada na Esplanade des Invalides foi uma beleza reconciliadora. O cardeal Tauran me disse: acredito que depois do Concílio não vi uma missa tão bonita. Silêncio, espírito de adoração, de interioridade. Até os comentaristas da tevê ficaram surpresos com o silêncio. Os próprios tradicionalistas não puderam deixar de admirar uma missa celebrada da forma normal, no rito romano, em latim e em francês, com o Papa, uma centena de bispos, dois mil padres, trezentos mil fiéis, na qual víamos uma imagem da Igreja da França: muitas famílias com seus filhos, pessoas da região de Paris, mas também de mais longe. Pessoas muito jovens, fervorosas, pacíficas, que não tinham vindo para ver o Papa, mas para rezar e participar de uma missa com o Papa. No dia seguinte, em Lourdes, encontramos também um povo cristão.

As coisas de que o senhor falou até agora estão sempre relacionadas com circunstâncias excepcionais. Mas qual é a imagem da Igreja em Lyon na vida cotidiana? 
     
 BARBARIN: Como em muitas outras partes da França, algumas situações nos dão – como eu poderia dizer? – a sensação de um muro que desaba. O carmelo, os jesuítas, várias congregações e comunidades religiosas já não têm vocações. Na própria colina de Fourvière vemos muitas casas religiosas à venda... É uma coisa que causa dor. Ao mesmo tempo, existem coisas novas, novas comunidades. Mas, sobretudo no campo, vemos as igrejas vazias, os jovens e as famílias católicas indo à missa em lugares muito “protegidos”, nas novas comunidades, em que a liturgia é mais fascinante. É uma pena; com isso corremos o risco de criar situações fechadas em si mesmas. 
     
Quer dizer, então, que o senhor não vê uma retomada da vida paroquial ordinária.      

BARBARIN: Muitas de minhas paróquias, em Lyon, são tristes. Mas pelo menos dez delas são muito vivas. Em algumas, há novas comunidades; em muitas outras, há sobretudo um pároco contente, e todos veem isso.

Nas igrejas de Paris se registra uma presença de imigrantes cada vez maior, que vem modificando o rosto das paróquias da cidade. Isso também acontece em Lyon? 
     
 BARBARIN: Em minha diocese, há pelo menos trinta padres africanos. E cinco são párocos. Pode-se ver que eles têm um impulso sincero, que se doam sem descanso; é como se quisessem “acordar” os franceses... Revitalizar situações apagadas e envelhecidas.

Lyon é também a cidade de Santo Irineu, da jovem escrava Santa Blandina e de outros mártires lyonenses. Mas, quando visitamos sua basílica, temos a impressão de que a memória desses santos se perdeu. A igreja vive fechada; para visitá-la, as pessoas precisam pedir que abram as portas.      

BARBARIN: Não é verdade. Blandina e os mártires de Lyon são importantes. Irineu é capital. Quando o metropolita Kirill, que hoje é patriarca de Moscou, veio a Lyon, ele visitou a catedral, e depois a única coisa que pediu que fizéssemos juntos foi uma visita ao túmulo de Santo Irineu. Essa visita, para ele, era a coisa mais importante a fazer em Lyon, mais importante que as conferências e os encontros com os eclesiásticos de hoje. Quando fui a Echmiadzin, em 2004, o catholicos Karekin II me pediu que pronunciasse lá três conferências sobre Santo Irineu. É um doutor ecumênico. É um santo comum a todas as Igrejas cristãs, antes da divisão. Todas têm admiração profunda e conhecem Lyon por esse santo. Nós celebramos as ordenações na Basílica de Santo Irineu, como, em Roma, fazem em São Pedro. Este ano, na reunião com todos os padres, que teremos na Quarta-feira Santa, o tema será São Paulo comentado por Santo Irineu. Nas coisas de nossa Igreja, nós sempre pomos Santo Irineu no meio. É normal. Seus restos mortais estão conservados num ossário, com os dos mártires de todos os séculos; seus ossos foram reunidos ali depois de se dispersarem durante as guerras de religião entre católicos e protestantes. 
     
 Os capuchinhos lefebvrianos de Morgon me disseram que o senhor, que é um bispo aberto e “ecumênico”, os tratou melhor que alguns outros bispos, que gostam de se apresentar como “rigorosos”. 
     
 BARBARIN: Eu os acolhi muitas vezes no arcebispado. Quando estava em Roma, no início de fevereiro, enviei a eles um cartão postal para lhes dizer que tinha ido rezar por eles no túmulo de São Pedro, pela unidade. Mandei o cartão aos capuchinhos de Morgon, em Fellay, e aos irmãos de minha comunidade integrista, em Lyon. “Rezei sobre o túmulo de Pedro, pedindo que vocês correspondam à mão estendida do Papa”, escrevi. Não sei o que está se passando na cabeça e no coração deles. Deve haver lutas entre eles. Conversei por telefone com o superior de minha comunidade integrista em Lyon, que repete meu nome em todas as missas, quando reza pro episcopo nostro Philippo. Ele me disse: “Eminência, estou lendo agora com mais atenção a Gaudium et spes. Espero poder voltar à plena obediência ao Papa”. Isso para dizer que é um momento em que, para muitos deles, vem acontecendo também um trabalho interior, dentro da própria consciência.

Fonte: 30giorni




A terrível realidade do purgatório por São João Maria Vianney


Sermão do Santo Cura d´Ars sobre o purgatório:

Por que será que eu me encontro de pé hoje nesse púlpito, meus caros irmãos? O que será que eu venho dizer para vocês? Ah! Eu venho em nome do próprio Deus. Eu venho em nome de seus pobres pais, para despertar em vocês aquele amor e gratidão que vocês lhes devem . Eu venho pra refrescar nas suas memórias novamente, toda a ternura e todo o amor que eles deram a vocês enquanto eles ainda estavam sobre essa terra. Eu venho pra dizer a vocês que eles sofrem no Purgatório, que eles choram e reclamam com urgentes gritos o auxílio de suas orações e boas-obras. Eu os tenho visto gritando das profundezas daquelas chamas que os devoram: -"Digam aos nossos amigos, aos nossos filhos, aos nossos parentes, como é grande o mal que eles estão nos fazendo sofrer. Nós nos atiramos aos seus pés para implorar o auxílio de suas orações! Ah! Diga -lhes que desde que nós fomos separados deles, nós temos estado queimando em chamas! Oh! Quempoderia permanecer tão indiferente diante dos sofrimentos que estamos enfrentando!" Você vê, meu caro irmão, você escuta aquela terna mãe, aquele pai devotado e todos aqueles parentes que lhe ajudaram e fizeram parte de sua vida? Meus amigos, eles gritam: -"Livrai-nos dessa dor, você pode!" Considerem então meus caros amigos: 1°- A magnitude desses sofrimentos pelos quais passam as almas do purgatório e 2°- os meios dos quais dispomos para mitigar esses sofrimentos: nossas boas obras, nossas orações e acima de tudo, o santo sacrifício da Missa. Eu não quero parar neste estágio para provar a existência do Purgatório, pois isso seria uma perda de tempo. Espero que nenhum de vocês tenha a menor dúvida a este respeito. A Igreja, à qual Jesus Cristo prometeu a guia do Espírito Santo e a qual, conseqüentemente, não pode se enganar nem nos enganar, ensina-nos sobre o Purgatório de um modo bem claro e positivo. Isto é uma certeza mais que certa, de que lá é um lugar onde as almas dos justos completam a expiação por seus pecados, antes de serem finalmente admitidas na glória do Paraíso, o qual, diga-se de passagem, já está assegurado a elas. Sim meus caros irmãos, isto é um artigo de Fé: se nós não tivermos feito penitência proporcional à gravidade de nossos pecados, ainda que tenhamos sido absolvidos no Sagrado Tribunal da Confissão, nós seremos obrigados a expiar por eles. Nas Sagradas Escrituras há muitos textos que mostram claramente, que embora nossos pecados possam ser perdoados, Deus ainda impõe-nos a obrigação de sofrer neste mundo duros trabalhos temporais ou no próximo através das chamas do Purgatório.Veja o que aconteceu com Adão. Porque ele se arrependeu logo depois de ter cometido o pecado original, Deus garantiu a ele que o havia perdoado,mas ainda assim Ele o condenou a passar nove séculos sobre esta terra fazendo penitência. Penitências que ultrapassam qualquer coisa que possamos imaginar:..."maldita seja a terra por tua causa. Tirarás dela com trabalhos penosos o teu sustento todos os dias de sua vida. Ela te produzirá espinhos e tu comerás a erva da terra. Comerás o teu pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra de que fostes tirado; porque és pó, e em pó te hás de tornar..."(Gênesis 3.17). Veja novamente: Davi ordenou, contrariando a vontade de Deus, que se fizesse o recenseamento de Israel. Atingido pelo remorso de consciência, ele reconheceu o seu pecado, atirou-se ao chão suplicando ao Senhor que o perdoasse. Conseqüentemente, Deus tocado pelo seu arrependimento, o perdoou. Mas apesar disso,ele enviou Gad para dizer a Davi que ele teria que escolher entre 3 tipos de punições que Ele havia preparado para Davi reparar pelo seu pecado: a peste,a fome ou a guerra. Davi então respondeu: "Ah! Caia eu nas mãos do Senhor, porque imensa é a sua misericórdia; mas que eu não caia nas mãos do homem..."(ICrônicas 21). Ele escolheu a peste e esta durou apenas 3 dias, mas matou 7 mil pessoas de seu povo. Se o Senhor não tivesse detido a mão do Anjo que estava estendida sobre Israel, Jerusalém inteira teria ficado despovoada! Davi ao ver todo omal causado pelo seu pecado, implorou a graça de Deus pedindo que Deus punisse apenas ele mesmo, mas que poupasse o seu povo que era inocente. Vejam também as penitências de Santa Maria Madalena! Quem sabe não sirvam para amolecer um pouco seus corações?Meus caros irmãos, o que serão então, o número de anos que nós teremos que sofrer no Purgatório, nós que cometemos tantos pecados e que sob o pretexto de já o termos confessado, não fazemos penitências e nem choramos por eles? Quantos anos de sofrimento nos esperam na próxima vida?Como poderia eu pintar um quadro dos sofrimentos que essas pobres almas suportam, quando os santos padres da Igreja dizem-nos que os tormentos que elas sofrem são comparáveis ao que passou Nosso Senhor Jesus Cristo durante sua dolorosa paixão? Uma coisa é certa, se o menor sofrimento que Nosso Senhor suportou tivesse sido compartilhado por toda a humanidade, todos estariam mortos devido à violência de seus sofrimentos. O fogo do Purgatório é o mesmo que o fogo do Inferno. A diferença entre eles é que o fogo do Purgatório não é eterno.Oh! Se Deus permitisse que uma daquelas pobres almas que está mergulhada nas chamas, aparecesse agora neste lugar, toda envolvida pelas chamas que a consome e desse ela mesma um recital dos sofrimentos que ela está suportando! Toda essa Igreja, meus caros irmãos, seria sacudida pelo eco de seus gritos e soluços e talvez quem sabe isso amoleceria os seus corações? Esta pobre alma nos diria: - "Como nós sofremos! Ó irmãos, livrai-nos desses tormentos! Ah, se vocês pudessem experimentar o que é viver separado de Deus!... Cruel separação! Queimar no fogo aceso pela justiça de Deus!.. Sofrer dores incompreensíveis para a mente humana!... Ser devorado pelo remorso, sabendo que poderíamos facilmente ter evitado esses tormentos!... Oh! Meus filhos!- gritam os pais e as mães- como podem vocês nos abandonar nessas horas, nós que tanto osamamos quando estávamos sobre essa terra! Como vocês podem ir dormir tranqüilamente em suas camas, enquanto nós queimamos em uma cama de fogo? Como vocês tem coragem de se entregar aos prazeres e alegrias, enquanto nós sofremos e choramos dia e noite? Vocês herdaram nossos bens, nossas propriedades, vocês se divertem com o fruto de nossos trabalhos, enquanto nós sofremos males tão indescritíveis e por tantos anos!.. E não são capazes de oferecer uma pequena oração em nossa intenção, nem uma simples Missa que tanto ajudaria para nos livrar dessas chamas!... Vocês podem aliviar nosso sofrimento, vocês podem abrir nossas prisões e vocês simplesmente nos abandonam. Oh! Quão cruel são estes sofrimentos!..."Sim meus irmãos, as pessoas julgam de um modo muito diferente, o que é estar nas chamas do Purgatório por todas essas culpas leves. Se é que é possível chamar de "leve" algo que nos faz suportar punição tão rigorosa! Que espanto seria para o homem, grita o profeta real, se mesmo o mais justo dos homens fosse julgado por Deus sem nenhuma misericórdia! Se Deus achou manchas até no sol e malícia nos anjos, o que será então do homem pecador? E para nós que cometemos tantos pecados mortais e praticamente não fazemos nada para satisfazer a justiça de Deus. Quantos anos de Purgatório! Meu Deus!-disse Santa Tereza de Ávila- "que alma seria suficientemente pura para entrar diretamente no Céu sem ter que passar pelas chamas da justiça?" Em sua última doença, ela de repente gritou: "Oh Justiça e Poder do meu Deus, quão terrível sois!" Durante sua agonia, Deus permitiu que ela contemplasse por alguns segundos a Sua Santidade, assim como os anjos e os santos do Céu O contemplam. E isso causou nela um pavor tão grande, que ela se pôs a tremer e ficou agitada de um modo tão extraordinário que as irmãs perguntaram-lhe chorando: -"Ah! Madre, o que está se passando? Certamente que a senhora não teme a morte depois de tantos anos de penitência e lágrimas amargas!" - Não, minhas filhas, eu não temo a morte, muito pelo contrário, eu a desejo porque só assim estarei unida eternamente a Deus. - Oh! Madre, seriam os teus pecados então, que ainda te aterrorizam depois de tantas mortificações? - Sim minhas filhas- respondeu Tereza- eu temo pelos meus pecados, mas temo por algo ainda maior! - Seria então, o julgamento? - Sim, eu temo pela formidável conta que terei que prestar diante de Deus. Principlamente porque nesse momento seremos julgados pela justiça e não pela misericórdia. Mas tem algo que ainda me faz morrer de terror. As pobres irmãs já estavam profundamente angustiadas. - Madre, seria por acaso o Inferno? -Não -respondeu ela - O inferno, Graças a Deus não é pra mim. Oh! Minhas filhas, é a Santidade de Deus. Meus Deus, tende misericórdia de mim! Minha vida será confrontada face a face com o próprio Cristo! Ai de mim se eu tiver a menor mancha ou falha! Ai de mim, se eu tiver a menor sombra de pecado! - Ai de nós! - gritaram as pobres irmãs - O que será então no dia das nossas mortes?O que será então de nós, meus caros irmãos? Nós que talvez em todas as nossas penitências e boas obras, talvez nunca tenhamos conseguido satisfazer por um único pecado perdoado no tribunal da Confissão? Ah! Quantos anos e séculos de tormento para nos punir?... Vamos pagar muito caro por todas essas "pequenas falhas" que nós vemos como algo que não tem a menor importância, como aquelas "pequenas mentirinhas" que nós falamos para evitar problemas para nós mesmos, aqueles pequenos escândalos, o desprezo pelas graças que Deus nos concede a cada momento, aquelas pequenas murmurações nas dificuldades que Ele nos envia! Não, meus caros irmãos, nós não teríamos nunca a coragem de cometer o menor pecado, se pudéssemos entender o quanto isto ultraja a Deus e o quão merecemos ser rigorosamente punidos, já ainda nesse mundo.Meus irmãos, Deus é justo em tudo que Ele faz. Quando Ele recompensa-nos até pela menor boa ação que fazemos, Ele nos dá muito mais do que qualquer um de nós merecemos. Um bom pensamento, uma boa ação, um bom desejo, ou seja, o desejo de fazer uma boa obra, mesmo quando não somos capazes de fazê-la, Ele nunca nos deixa sem uma recompensa. Mas também, quando se trata de uma matéria de punição, isto é feito com o maior rigor e ainda que tenhamos a menor falta seremos enviados para o Purgatório. Isto é verdade absoluta e nós comprovamos isto pela vida dos santos. Muitos deles não chegaram ao Céu, sem antes terem passado pelas chamas do Purgatório.São Pedro Damião conta-nos que sua irmã permaneceu vários anos no Purgatório porque ela ouviu com prazer certos tipos de músicas. Conta-se também que dois religiosos fizeram um pacto um com o outro, acertando que quem morresse primeiro viria contar ao sobrevivente em que estado ele se encontrava. Deus permitiu que isso acontecesse e quando um deles morreu, apareceu ao seu amigo. Ele contou ao seu amigo que tinha permanecido 15 anos no Purgatório por seu orgulho de sempre querer fazer as coisas a seu modo. Então seu amigo o cumprimentou por ter permanecido lá por tão pouco tempo! O morto então respondeu: - Eu teria preferido ser queimado vivo por 10 mil anos ininterruptos nessa terra, pois esse sofrimento nem poderia ser comparado com o que eu sofri 15 anos naquelas chamas! Um sacerdote contou a um de seus amigos que Deus o havia condenado a permanecer no Purgatório por vários meses, por ter segurado a execução de uma boa-obra que era Vontade de Deus que fosse feita. Coitados de nós, meus irmãos! Quantos de nós não temos faltas semelhantes? Quantos de nós recebemos a tarefa de nossos parentes e amigos de mandarmos celebrar Missas e dar esmolas e simplesmente fazemo-nos de esquecidos! Quantos de nós evitamos fazer boas-obras apenas por respeito humano? E todas essas almas presas nas chamas, porque não temos coragem de satisfazer seus desejos! Pobres pais e pobres mães, vocês agora estão sendo sacrificados pela felicidade de seus filhos e parentes! Vocês talvez tenham negligenciado sua própria salvação para construírem suas fortunas. E agora vocês estão sendo traídos pelas boas-obras que vocês deixaram de fazer enquanto ainda estavam vivos! Pobres pais! Quanta cegueira é esquecer de nossa própria salvação!Você talvez me dirá: -Nossos pais eram pessoas boas e honestas. Eles não fizeram nada de tão grave para merecerem essas chamas! Ah! Se vocês soubesses que eles precisavam de muito menos do que eles fizeram para cair nessas chamas! Vejam o que disse a esse respeito, Alberto, o Grande, um homem cujas virtudes brilharam de modo extraordinário! Ele revelou a um de seus amigos, que Deus o havia levado ao Purgatório por ter se orgulhado de um pensamento sobre seu próprio conhecimento. A coisa mais surpreendente foi que ali haviam verdadeiros santos, muitos que inclusive já tinham sido canonizados pela Igreja e que estavam passando pelas chamas do Purgatório.São Severino, Arcebispo de Colônia, apareceu a um de seus amigos muito tempo depois de sua morte e disse-lhe que ele havia passado um longo tempo no Purgatório por ter adiado pra de noite, as orações do breviário que ele devia ter recitado pela manhã.Oh! Quantos anos de Purgatório não passarão aqueles cristãos que não tem o menor escrúpulo em adiar suas orações para uma outra hora, apenas pela desculpa de terem algo mais importante a fazer! Se nós realmente desejássemos a felicidade de possuir a visão beatífica de Deus, nós evitaríamos tanto os pecados mortais como os veniais, uma vez que a separação de Deus constitui-se um tormento tão terrível para essas almas!
 
Retirado do livro "O Espírito do Cura D'Árs".

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Santo Padre nomeia novo bispo auxiliar para a Arquidiocese de Belo Horizonte

O papa Bento XVI nomeou hoje, 19, bispo auxiliar da arquidiocese de Belo Horizonte (MG), o padre Luiz Gonzaga Fechio, atual pároco da paróquia dos Santos Anjos, da diocese de São Carlos (SP). Com essa nomeação o papa Bento XVI atendeu a uma solicitação do arcebispo de Belo Horizonte, dom Walmor de Oliveira Azevedo. A ordenação episcopal será no dia 19 de março na Catedral de São Carlos

Novo bispo auxiliar de Belo Horizonte celebrando missa com vasos sagrados proibidos

A vida de uma santa que tem muito a nos dizer: Santa Teresa dos Andes


Nasceu em Santiago do Chile a 13 de Julho de 1900. No Baptismo foi-lhe dado o nome de Joana Henriqueta Josefina dos Sagrados Corações Fernández Solar. Familiarmente era conhecida, e é-o ainda hoje, pelo nome de Juanita.
Viveu uma infância normal no seio da família: os pais, Miguel Fernández e Lucia Solar; três irmãos e duas irmãs; o avô materno, tios, tias e primos.
A família gozava de boa posição económica e guardava fielmente a fé cristã que vivia com sinceridade e constância.
Joana recebeu a sua formação escolar no colégio das Irmãs francesas do Sagrado Coração. Uma curta e intensa história passada entre a família e o colégio. Aos catorze anos, movida por Deus, já ela se decidiu a consagrar-se a Ele como religiosa, em concreto, como carmelita descalça.
Este seu desejo veio a realizar-se a 7 de Maio de 1919, quando entrou no pequeno mosteiro do Espírito Santo na povoação de Los Andes, a cerca de 90 kms de Santiago.
Vestiu o hábito de carmelita no dia 14 de Outubro desse mesmo ano, iniciando assim o noviciado com o nome de Teresa de Jesus.
Tinha intuído, havia muito, que morreria jovem. Melhor, o Senhor tinha-lho revelado, como comunicou ao confessor um mês antes da sua partida para Ele.
Assumiu este anúncio com alegria, serenidade e confiança, certa de que na eternidade continuaria a sua missão de fazer conhecer e amar a Deus.
Após muitas tribulações interiores e indizíveis padecimentos fisicos, causados por um violento ataque de tifo que lhe consumiu a vida, passou deste mundo para o Pai no entardecer do dia 12 de Abril de 1920. Tinha recebido com sumo fervor os santos sacramentos da Igreja e no dia 7 de Abril fez a profissão religiosa em artigo de morte. Faltavam-lhe ainda três meses para completar os 20 anos de idade e 6 para terminar o noviciado canónico e poder emitir juridicamente os votos religiosos. Morreu, portanto, sendo noviça carmelita descalça.
Esta é a trajectória externa desta jovem chilena de Santiago. Desconcerta e desperta em nós uma grande interrogação: Mas, que fez ela de importante? Para tal pergunta, uma resposta igualmente desconcertante: viver, crer, amar.
Quando os discípulos perguntaram a Jesus sobre o que deviam fazer para cumprir as obras de Deus, Ele respondeu: " A obra de Deus é que acrediteis n'Aquele que Ele enviou " (Jo. 6, 28-29). Portanto, para aperceber-nos do valor da vida de "Juanita", é necessário assomar-nos ao seu interior, ali onde o Reino de Deus está.
Ela abriu-se à vida da graça desde mui tenra idade. E ela mesma que nos assegura que aos 6 anos, movida pelo Senhor, conseguiu centrar n'Ele toda a riqueza da sua afectividade. "Quando se deu o terramoto de 1906, pouco depois, Jesus começou a apoderar-se do meu coração" (Diario, n. 3, p. 26). Juanita aliava uma enorme capacidade de amar e de ser amada a uma extraordinária inteligência. Deus fê-la experimentar a sua presença, cativou-a dando-se-lhe a conhecer e fê-la totalmente d'Ele, unindo-a ao sacrifício da cruz. Conhecendo-O, amou-O; e amando-O, entregou-se radicalmente a Ele.
Tinha compreendido, já desde pequena, que o amor se mostra mais com obras que com palavras. Por isso traduziu-o em todos os actos da própria vida, desde a sua motivação mais profunda. Olhou-se a si mesma de frente com olhos sinceros e sábios e compreendeu que, para ser de Deus, era necessário morrer para si mesma e para tudo o que não fosse Ele.
Por natureza era totalmente adversa às exigências do Evangelho: orgulhosa, egoísta, teimosa, com todos os defeitos que isto supõe. Como nos acontece a todos. Mas o que ela fez de diferente foi não esmorecer nunca na luta encarniçada contra todo o impulso não nascido do amor.
Aos 10 anos era uma nova pessoa. Motivava-a o sacramento da Eucaristia que ia receber.
Compreendeu que era Deus que ia morar dentro dela; e isso fê-la empenhar todo o esforço em ornar-se das virtudes que a fizessem menos indigna desta graça e conseguiu, em pouquíssimo tempo, transformar por completo o seu carácter.
Na celebração deste Sacramento recebeu de Deus graças místicas de falas interiores que persistiram ao longo de toda a vida. Desde então, a inclinação natural para Deus transformou-se nela em amizade, em vida de oração.
Quatro anos mais tarde recebeu interiormente a revelação que iria orientar definitivamente toda a sua vida: Jesus Cristo disse-lhe que a queria carmelita e que a sua meta tinha de ser a santidade.
Com abundante graça de Deus e a generosidade duma jovem apaixonada, entregou-se à oração, à aquisição das virtudes e à prática da vida segundo o Evangelho, de tal modo que em breves anos foi elevada a alto grau de união com Deus.
Cristo foi o seu ideal, o seu único ideal. Enamorou-se d'Ele e foi consequente até crucificar-se em cada momento por Ele. Invadiu-a O amor esponsal e, por isso, o desejo de unir-se plenamente a Quem a havia cativado. Assim, aos 15 anos fez voto de virgindade por nove dias, que renovou depois continuamente.
A santidade da sua vida resplandeceu nos actos ordinários de cada dia em qualquer ambiente onde viveu: a família, o colégio, as amigas, os vizinhos com quem passava parte das suas férias e a quem, com zelo apostólico, catequizou e ajudou.
Sendo jovem igual a todas as suas amigas, estas reconheciam-na diferente. Tomaram-na por modelo, apoio e conselheira. Juanita sofreu e gozou intensamente em Deus as penas e alegrias comuns a todas as pessoas.
Jovial, alegre, simpática, atraente, desportista, comunicativa. Adolescente ainda, alcançou perfeito equilíbrio psicológico e espiritual, como fruto de ascese e oração. A serenidade do seu rosto era o reflexo do Deus que nela vivia.
A sua vida no convento, de 7 de Maio de 1919 até à morte, foi o último degrau da sua ascensão ao cume da santidade. Nada mais que onze meses bastaram para consumar uma vida totalmente cristificada.
Bem depressa a Comunidade descobriu nela a passagem de Deus na sua própria história. No estilo de vida carmelitano-teresiano, a jovem encontrou plenamente o espaço por onde derramar, com a maior eficácia, a torrente de vida que ela queria oferecer à Igreja de Cristo. Era o mesmo estilo de vida que, a seu modo, vivera na família e a que se sentia chamada. A Ordem da Virgem Maria do Monte Carmelo culminou os desejos de Juanita ao comprovar que a Mãe de Deus, a quem amou desde pequena, a tinha atraído para pertencer-lhe.
Foi beatificada em Santiago do Chile por Sua Santidade o Papa João Paulo II, no dia 3 de Abril de 1987. Os seus restos são venerados no Santuário de Auco-Rinconada dos Andes por milhares de peregrinos que buscam e encontram nela a consolação, a luz, e o caminho recto para Deus.
Santa Teresa de Jesus nos Andres  é a primeira Santa chilena, a primeira Santa carmelita descalça de além fronteiras da Europa e a quarta Santa Teresa do Carmelo, depois das Santas Teresas de Avila, de Florença e de Lisieux.

Santa Teresa do Andes, Rogai por nós!

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Ex-diretora de clínica de aborto narra sua conversão a verdadeira Igreja de Cristo e à causa pró-vida

"UnPlanned" (Não planejado) é o livro no qual a ativista pró-vida Abby Johnson detalha como deixou seu trabalho de diretora de uma clínica de abortos da cadeia Planned Parenthood (PP) para converter-se em defensora da vida e abraçar a fé católica.

Johnson se converteu em figura pública em novembro de 2009 quando um juiz descartou um processo da Planned Parenthood que pretendia silenciá-la. A imprensa americana divulgou sua surpreendente mudança e hoje seu testemunho permite salvar vidas de não-nascidos nos Estados Unidos.

Apesar dos problemas legais e ataques pessoais de seus ex-empregadores, Johnson narra sua história completa no livro publicado pela Ignatius Press que vem sendo vendido em livrarias locais desde o 11 de janeiro.

No volume, Johnson explica por que deixou a indústria do aborto para formar parte do movimento pró-vida, rechaçar inclusive a anticoncepção e abraçar a fé católica.

Johnson começou como voluntária na PP e chegou a dirigir a clínica de abortos Bryan/College Station, Texas (Estados Unidos).

Ela mesma se submeteu a dois abortos e sofria em silêncio enquanto seus empregadores exigiam que ela alcançasse as cotas de abortos na clínica e aceitava sem questionamentos a ideologia da PP sobre o falso "direito ao aborto".

O que suscitou sua conversão foi a experiência de ver em um monitor de ultra-som como era abortado um não-nascido de 13 semanas.

Em uma ocasião pediram a Abby que ela ajudasse em um aborto devido a escassez de pessoal em setembro de 2009. Esses minutos trocaram sua vida para sempre. Ela pensava que o bebê era incapaz de sentir algo com tão poucas semanas de concebido, mas conta que viu como ele se retorcia e fugia do tubo que o aspirava.

"Logo se desmanchou e começou a desaparecer dentro da cânula ante meus olhos", recorda Johnson e acrescenta que o último que viu foi "como sua pequena espinha dorsal, perfeitamente formada era sugada pelo tubo, e que logo já não estava lá".

Em uma entrevista concedida ao grupo ACI em 11 de janeiro, Johnson assinalou que deixou seu trabalho e se uniu ao movimento pró-vida para ajudar as mulheres a entenderem a verdade sobre o aborto e não para converter-se em uma figura pública. Foi por causa da Planned Parenthood  e não da Coalizão pela Vida, movimento que a acolheu, que Johnson decidiu publicar sua história.

A transnacional abortista abriu uma batalha legal contra Johnson para que ela não falasse de seu ex-trabalho e foi a organização anti-vida a que levou seu caso à imprensa.

"Isto não foi o que planejei para minha vida. Mas Deus o preparou para mim e seria incorreto afastar-se de algo que Ele quis para minha vida", sustenta Johnson e assegura que junto ao seu marido cresceram em sua fé durante todo este ano e se preparam para entrar na Igreja Católica.

Um dos últimos obstáculos que encontrou no curso de sua conversão ao catolicismo, foi aceitar o ensino da Igreja sobre o controle da natalidade. Entretanto, Johnson assinala que ter estudado com "mente aberta" o pensamento de João Paulo II e outras fontes de ensino da Igreja, junto a uma experiência pessoal enquanto rezava em uma igreja, a fez compreender a plenitude do ensinamento da Igreja sobre a sexualidade.

Fonte: ACIDigital

domingo, 16 de janeiro de 2011

As maravilhas da confissão freqüente por Santo Afonso Maria de Ligório




"Não falamos aqui das confissões das pessoas incursas em pecados mortais. Entretanto não deixaremos de dar muitos avisos concernentes às ocasiões próximas e às confissões sacrílegas. Mas queremos falar principalmente das confissões das almas timoratas, que amam a perfeição e procuram purificar-se cada vez mais das manchas dos pecados veniais.

UTILIDADE DA CONFISSÃO FREQÜENTE

Refere Cesário que um santo sacerdote mandou da parte de Deus a um demônio que lhe tinha aparecido, lhe dissesse o que mais o maltratava; e o inimigo lhe respondeu que nada o contrariava nem o desgostava tanto, como a confissão freqüente. - Mas ouçamos o que Jesus Cristo disse a Sta. Brígida: "Aquele que quer conservar o fervor, deve purificar-se freqüentemente com a confissão na qual se acuse de todos os seus defeitos e negligências em servir-me." - Cassiano ensina que a alma que aspira à perfeição, deve cuidar de ter uma grande pureza de consciência, porque assim é que se adquire o perfeito amor de Deus, que não se dá senão às almas puras; de sorte que o divino amor corresponde à pureza do coração.

- É preciso, porém entender que nos homens, segundo o estado presente, esta pureza não consiste em uma isenção absoluta de toda a falta; porque, exceto nosso divino Salvador e sua divina Mãe, não houve nem haverá no mundo nenhuma alma sem suas manchas. Todos nós nascemos em pecado e caímos em muitas faltas, diz S. Tiago.

- Consiste em duas coisas, que são velar atentamente para que não entre no coração nenhuma falta deliberada, por leve que seja, e ter cuidado de purificar-se imediatamente de qualquer falta que nele possa ter entrado.

- Estes são justamente os dois bons efeitos que produz a confissão freqüente.

Primeiramente, pela confissão freqüente, uma pessoa se purifica das manchas contraídas. - A este propósito, narra S. João Clímaco que um jovem, desejando corrigir-se da má vida, que levava no século, foi-se fazer religioso em certo mosteiro. Antes de recebê-lo, o abade quis prová-lo; e lhe disse que, se queria ser admitido, fosse confessar em público todos os seus pecados. Deveras resolvido a se entregar inteiramente a Deus, o jovem obedeceu; mas, enquanto expunha suas faltas diante da comunidade, um santo religioso que fazia parte desta, viu um homem de aspecto venerando, que a medida que o moço ia declarando seus pecados, os apagava de um papel que tinha na mão, onde estavam escritos; de sorte que, acabada a confissão, todos estavam apagados.

- O que, neste caso, aconteceu visivelmente, sucede invisivelmente toda a vez que um se confessa com as devidas disposições.

- A confissão, porém, além de purificar a alma de suas máculas, dá-lhe também força para não recair. - Segundo o doutor angélico, a virtude da penitência faz que a falta cometida seja destruída e também que não volte mais.

- A tal propósito S.Bernardo refere um fato da vida de S. Malaquias.Uma mulher tinha o hábito de se impacientar e de se irritar a tal ponto que se tornara insuportável. S. Malaquias, ouvindo dela mesma que nunca se houvera confessado de tais impaciências, excitou-a a fazer uma confissão exata dessas faltas. Depois disto, tornou-se tão paciente e tão branda, que parecia incapaz de se enfadar por qualquer trabalho ou mau trato que a importunasse.É por isso que muitos santos, para adquirirem a pureza de consciência, costumavam confessar-se todos os dias. Assim praticavam Sta. Catarina de Senna, Sta. Brígida, a Beata Collecta, e também S.Carlos Borromeo, Sto. Inácio de Loiola e muitos outros. S. Francisco de Borgia não se contentava com uma só vez, confessava-se duas vezes por dia.

- Se os homens do mundo tem horror de aparecer com uma mancha no rosto diante de seus amigos, que se há de estranhar que as almas amigas de Deus procurem purificar-se cada vez mais, para se tornarem cada vez mais agradáveis aos olhos de Nosso Senhor.- De resto, não pretendemos aqui obrigar as religiosas que freqüentam a comunhão, a confessar-se toda a vez que comungam. Entretanto é conveniente que se confessem duas vezes ou ao menos uma vez por semana, e além disso quando houverem cometido alguma culpa com advertência.

DO EXAME, DA DOR OU CONTRIÇÃO E DO BOM PROPÓSITO

- Sabe-se que, para fazer uma boa confissão, três coisas se requerem: O exame de consciência, a dor de ter pecado, e o propósito de se corrigir.

1. Quanto ao exame, aos que freqüentam os sacramentos, não é necessário que quebrem a cabeça em indagar todos os pormenores das faltas veniais. É preferível que se apliquem mais a descobrir as causas e raízes de seus apegos e de suas negligências.Digo isto para as religiosas que vão se confessar, com a cabeça cheia de coisas ouvidas na grade, e não fazem outra coisa que repetir, de cada vez, a recitação das mesmas faltas, como uma cantilena, sem arrependimento e sem propósito de emenda.Para as almas espirituais, que se confessam amiúde e tem cuidado de evitar os pecados veniais deliberados, o exame não exige muito tempo; pois não têm necessidade de indagar sobre as faltas graves, porque se a sua consciência estivesse sobrecarregada de um só pecado mortal, este se daria logo a conhecer por si mesmo. Quanto aos pecados veniais, se fosse plenamente voluntários, se manifestariam também de um modo sensível de pena que causariam; aliás não há obrigação de confessar todas as faltas leves que se tem na consciência, e por conseguinte também não há obrigação de fazer um exame exato e menos ainda de escrutar o número e circunstâncias, ou se recordar como e porque se cometeram.Basta declarar as faltas leves que pesam mais e são mais opostas a perfeição, e acusar as outras em termos gerais.

- Quando não há matéria certa depois da confissão última, diga-se algum pecado da vida passada, de que se tenha mais dor, por exemplo: Eu me acuso especialmente de todas as culpas cometidas no passado contra a caridade, a pureza ou a obediência.

- É bastante consolador o que sobre este ponto escreve S. Francisco de Sales: "Não vos inquieteis, se não vos lembrardes de todas as vossas faltinhas para confessá-las; porque assim como muitas vezes cais sem advertência, assim também muitas vezes vos levantareis sem percebê-lo; a saber, pelos atos de amor ou outros atos bons que as almas devotas soem fazer".

2. É necessária, em segundo lugar, a dor ou contrição, e é o que se requer principalmente para obter a remissão dos pecados. As confissões mais longas não são as melhores, mas as em que há mais dor. O sinal de uma boa confissão, diz S. Gregório, não se acha no grande número de palavras do penitente, mas no arrependimento que demonstra.

- De resto, as religiosas que se confessam amiúde e tem horror até as culpas veniais, desfazem as dúvidas se tem ou não verdadeira contrição. Quereriam, cada vez que se confessam, ter lágrimas de enternecimento; e como apesar dos seus esforços e de toda a violência que fazem, não podem tê-las, estão sempre inquietas sobre suas confissões. É preciso que se persuadam que a verdadeira dor não está em senti-la mas em querê-la. Todo o mérito das virtudes está na vontade. É por isso que Gerson, falando da fé, assegura que aquele que quer crer, algumas vezes tem mais mérito do que aquele que crê.

- Mas S. Tomás ensinou a mesma coisa antes dele, falando precisamente da contrição. Diz ele que a dor essencial, necessária para a confissão, é a detestação do pecado cometido, e que esta dor não está na parte sensitiva, mas na vontade; visto que a dor sensível é um efeito do desprazer da vontade o que nem sempre está em nosso poder, porque a parte inferior nem sempre segue a parte superior.

Assim, pois, toda a vez que, na vontade, a displicência da culpa cometida é acima de todos os males, a confissão é boa.

- Abstende-vos, portanto, de fazer esforços para sentir a dor. - Falando dos atos internos, sabei que os melhores são os que se fazem com menor violência e maior suavidade, visto que o Espírito Santo ordena tudo com doçura e tranqüilidade.

Pelo que, o santo rei Ezequias, falando do arrependimento que tinha de seus pecados, dizia sentir deles dor muito amarga mas em paz.

Quando quiserdes receber a absolvição, fazei assim: No aparelhar-vos para a confissão, começai por pedir a Jesus Cristo e a Virgem das Dores uma verdadeira dor de vossos pecados; em seguida fazei brevemente o exame, como acima dissemos; e depois, para a contrição, basta que façais um ato como este: "Meu Deus, eu vos amo acima de todas as coisas; espero, pelos merecimentos do sangue de Jesus Cristo, o perdão de todos os meus pecados, dos quais me arrependo de todo o coração, por ter ofendido e desgostado a vossa infinita bondade, e os aborreço mais do que todos os males; e uno este meu aborrecimento ao aborrecimento que deles teve o meu Jesus no horto de Getsêmani. Proponho não vos ofender mais, com a vossa graça".Uma vez que tenhais querido pronunciar este ato com sinceridade, ide tranqüilamente receber a absolvição, sem temor e sem escrúpulo. - Sta. Teresa para tirar as angústias a este respeito, dava um outro bom sinal de contrição: "Vede, dizia ela, se tendes um verdadeiro propósito de não cometer mais os pecados que ides confessar. Se tendes este propósito, não duvideis de ter também a verdadeira dor".

3. É necessário enfim o bom propósito. O propósito exigido para a confissão, para ser bom, deve ser firme, universal e eficaz.Primeiramente, deve ser firme. Há alguns que dizem: eu não quereria cometer mais este pecado; eu não quereria mais ofender a Deus. - Mas ai! este eu quereria denota que o propósito não é firme. Para que o seja, é necessário dizer com vontade resoluta: Não quero mais ofender a Deus deliberadamente.Em segundo lugar, deve ser universal, isto é, deve o penitente propor-se a evitar todos os pecados sem exceção. Isto, porém, só se entende dos pecados mortais.

Quanto aos pecados veniais, basta, para o valor do sacramento, que o arrependimento e o propósito recaiam sobre uma só espécie de pecado; mas as pessoas mais espirituais devem propor se evitar todos os pecados veniais deliberados; e quanto aos indeliberados, visto que é impossível evitá-los todos, basta que se proponham fazê-lo quanto for possível.Em terceiro lugar, deve ser eficaz, isto é, capaz de determinar o penitente a empregar os meios necessários para não cometer mais as faltas de que se acusa, e especialmente a fugir das ocasiões próximas de recair. Por ocasião próxima se entende aquela em que a pessoa caiu muitas vezes em pecados graves, ou, sem justa causa, induziu outros a caírem.Neste caso não basta propor-se somente evitar o pecado, mas é necessário também propor tirar a ocasião, aliás as suas confissões serão todas nulas, embora receba mil absolvições; pois não querer remover a ocasião próxima de pecado grave já é por si culpa grave. E assim como temos demonstrado na nossa obra de teologia moral, quem recebe a absolvição sem o propósito de tirar a ocasião próxima, comete um novo pecado mortal de sacrilégio."

(Santo Afonso Maria de Ligório - A Verdadeira Esposa de Jesus Cristo)

Fonte: Volta para a casa

sábado, 15 de janeiro de 2011

O que fazer caso tenhamos um mau papa ?

Não compete à Igreja mudar a forma de seu regime nem decidir do destino daquele que, uma vez validamente eleito, não é o seu Vigário, mas o Vigário de Cristo. Por isso, ele não possui nenhum recurso para seu Chefe, ou para depô-lo. Nasceu ela para obedecer. Pode talvez esta verdade parecer dura. Todavia os verdadeiros teólogos não a atenuaram. Pelo contrário, reforçaram-na. Para que tomássemos consciências de tudo o que se pode exigir de heroísmo e devemos estar prontos para sofrer pela Igreja, os teólogos apontam os casos extremos. Consideraram, primeiramente, um Papa escandalizando a Igreja pelos mais graves pecados; e o consideraram também incorrigível. Perguntaram então se a igreja poderia depô-lo. Responderam, não: porque não há pessoa na terra que possa tocar no Papa.
Na sua “Suma sobre a Igreja” o Cardeal Torquemada apresenta muitos remédios aos quais se possa recorrer nessa calamidade: admoestações respeitosas, resistência direta aos maus atos, etc. Mas todos os remédios podem ser ineficazes.
Resta, porém, um supremo recurso, mais ineficaz, terrível às vezes como a morte, secreto como o amor. Este recurso, conheceram-no os santos, é a oração. “Cuidai para que eu não me queixe de vós a Jesus Cristo crucificado“, escreveu Sta. Catarina de Sena a Gregório IX. “Eu não posso me queixar a outrem, porque não tendes superior na terra“.
Aos maus teólogos que pensavam ficar a Igreja sem defesa se não fosse permitido depor um Papa viciado, o Cardeal Caetano, que conheceu os tempos de Alexandre VI, não teve senão uma resposta: lembrou-lhes a força da oração. Nunca ela aparece tão grande senão em tais conjunturas. É sempre indicado recorrer à oração, ela é uma das forças mais puras de que o cristão pode usar. Aqui, porém, ela não é somente um meio “comum” que deve ser usado com os outros meios; ela torna-se o meio “próprio”, a verdadeira alavanca que a Igreja na calamidade pode usar.
Se me objetam que a oração é o remédio comum contra todos os males que nos afligem, e que com relação ao mal considerado neste caso deve se ministrar um remédio próprio, todo o efeito resultando não apenas de causas gerais, mas ainda de uma causa própria -, respondo de modo geral que as causas supremas, apesar de exercerem papel de causas comuns com relação aos efeitos inferiores, exercem o papel de causas próprias com relação aos efeitos superiores.
Por isso, a oração, que deve ser colocada entre as mais altas causas segundas sobrenaturais, não é senão uma causa comum com relação aos efeitos inferiores; mas é causa própria e um remédio próprio com relação aos efeitos supremos, como seria – visto realizar um efeito reservado a Deus, – a destituição de um Papa ainda crente, mas incorrigível“.
Quanto à oração que deve ser feita, o mesmo autor o diz quando repreende os seus contemporâneos quanto ao modo de recitar o Ofício Divino e de celebrar a Santa Missa. Convém citar estas páginas onde simultaneamente aparecem a clareza do seu gênio e a caridade de seu coração.
A sabedoria divina que, na ordem natural, governa os seres inferiores pelos superiores, e estes pelas supremas causas segundas, semelhantemente age na ordem sobrenatural, à qual pertence a graça, a fé e a Igreja fundada sobre a fé. Por outro lado, as causas são proporcionais aos efeitos, as mais elevadas correspondendo aos efeitos mais elevados. Se, por conseguinte, de uma parte, os meios da indústria humana (”providentia humana”) por mais elevados que sejam pela autoridade da Igreja não representam senão uma força inferior à oração colocada no ápice das causas segundas por Deus, ao qual toda criatura corporal e espiritualmente está submetida; se, por outra parte, o recurso contra um mau Papa, mas ainda crente, é considerado entre os efeitos mais elevados na Igreja, conclui-se que Deus, na sua sabedoria, dignou-se dar à Igreja, como remédio contra um mau Papa, não mais esses meios da indústria humana, que podem influir sobre o resto da Igreja, mas só a oração. A oração da Igreja pedindo com perseverança o que é necessário para sua salvação não se mostrará menos eficaz que o esforço humano. Não é também eficaz e infalível a oração fervorosa de um particular, pedindo para si coisas necessárias para a própria salvação? Por conseguinte, se é necessária para a salvação da Igreja que um tal Papa seja destituído, sem dúvida alguma a oração de que falamos o destituirá. (…) – É necessário, diz-se, destituir um mau Papa por meios humanos; não é suficiente o recurso à oração e só à Providência Divina. Mas porque se diz isso, senão se preferem os meios humanos à eficácia da oração, senão porque o homem animal não percebe as coisas de Deus, senão porque nos acostumamos a confiar no homem, não no Senhor, e a colocar o nosso apoio na carne? Mas quando um Papa obstinado no mal se apresenta, os mesmos inferiores, sem deixarem os próprios vícios, contentam-se em murmurar diariamente contra o regime; não procuram recorrer, a não ser em sonho e sem fé, ao remédio da oração, de modo que acontece, devido às suas faltas, o que está predito na Escritura: que é devido aos pecados do povo que um hipócrita reine, santo pelo cargo, mas demônio pela alma. (…) Tornamo-nos de tal modo cegos a ponto de rejeitar a oração, mas desejando os frutos da oração; recusando semear, mas desejando a colheita. Que não nos chamemos mais de cristãos.”
Recorramos a Cristo. Venceremos mesmo que o Papa seja frenético, furioso, dilacerador, dilapidador e corruptor da Igreja”.
Desse modo, mesmo que falhasse gravemente na vida privada, o Papa não poderia ser deposto. O escândalo poderia ser imenso. A infalibilidade doutrinal, porém, jamais seria atingida. E continuaria de fé a verdade de que nenhuma tentação é sobre-humana. Deus que é fiel, não permitirá que nenhuma tentação esteja acima das forças de seus filhos que lhe buscam a face, e Ele oferecerá a cada um , sem segredo, o socorro que os farão vencer (cfr. 1 Cor. 10, 13).

Revista Permanência número 57 de julho de 1973